
A Cruz Vermelha e o Ministério da Saúde de Gaza dizem que pelo menos 27 palestinianos foram mortos depois de o exército israelita ter aberto fogo junto de uma multidão que caminhava em direção a um local de distribuição de comida na cidade de Rafah, em Gaza, segundo relatam os jornalistas do New York Times no terreno.
"As forças israelitas abriram fogo com tanques e drones contra milhares de civis que se tinham reunido desde a madrugada junto à rotunda de al-Alam, na zona de al-Mawasi, a noroeste de Rafah”, informou Mahmoud Bassal, porta-voz da defesa civil de Gaza, em declarações à agência France-Presse, citado The Guardian. O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, citado também por aquele jornal britânico, foi inequívoco na sua crítica ao que aconteceu: “Os ataques mortíferos contra civis perturbados e que tentam aceder às míseras quantidades de ajuda alimentar em Gaza são inaceitáveis.” Para Türk, a situação é clara: “Os ataques dirigidos contra civis constituem uma grave violação do direito internacional e um crime de guerra.”
Três crianças e duas mulheres foram encontradas entre os mortos, de acordo com informações prestadas ao Guardian por Mohammed Saqr, chefe de enfermagem do hospital Nasser, para onde foram transportadas todas as vítimas do incidente. Médicos de serviço contaram que os militares israelitas apontaram sobretudo para as cabeças e os troncos das vítimas e que, perante a emergência desta terça-feira, as reservas de sangue e de material cirúrgico no hospital estavam a chegar ao fim.
ONU avisou para o que podia acontecer
O tiroteio aconteceu a menos de 500 metros do local de distribuição de comida. Trata-se de um dos quatro pontos onde é atualmente oferecida ajuda humanitária à população local e faz de um novo sistema que os israelitas montaram em coordenação com empresas americanas, em contraste com os 400 locais que eram antes geridos pelas Nações Unidas.
Segundo o New York Times, a ONU avisou atempadamente para os riscos de locais de distribuição sobrelotados e para a eventualidade de as forças israelitas ou as equipas americanas contratadas para o efeito poderem usar a força para controlar os grandes aglomerados de pessoas, num ambiente em que é mais propício ocorrerem situações de saques organizados à comida e outros bens de primeira necessidade.
Um dos testemunhos recolhidos pelo Guardian foi de Tamer Nassar, um homem de 33 anos que chegou de madrugada para tentar recolher comida para a sua família e acabou por ser um das vítimas do tiroteio. “Levantei o ombro enquanto tentava deitar-me de barriga para baixo, e foi aí que a primeira bala atingiu o meu ombro”, contou, recordando que qualquer pessoa que tentasse ajudar os feridos como ele também era alvejada. “Se tivéssemos comida em casa para matar a fome dos nossos filhos, não teríamos ido e arriscado as nossas vidas.”