
Uma sobrevivente do cerco de Leninegrado, Lyudmila Vasilieva, de 84 anos, foi multada hoje por um tribunal de São Petersburgo, por ter exibido publicamente um cartaz a apelar à paz durante a ofensiva russa na Ucrânia.
Num comunicado, o tribunal Kuibyshevsky, de São Petersburgo (Leninegrado na época soviética) adianta que a considerou culpada de "desacreditar" o exército russo e multou-a em 10.000 rublos (110 euros).
Segundo a lei russa, Vassilieva pode ser multada até 50.000 rublos (560 euros).
Em março passado, Lyudmila Vassilieva ergueu um cartaz no centro de São Petersburgo com o texto manuscrito "A todos. Parem a guerra! Nós somos responsáveis pela paz na Terra!"
O julgamento desta avó de quatro netos ocorre num contexto de repressão das vozes dissidentes na Rússia, cuja ofensiva na Ucrânia causou dezenas de milhares de civis e soldados mortos e feridos de ambos os lados.
As detenções por "espionagem", "traição", "sabotagem", "extremismo" ou críticas ao exército têm-se multiplicado nos últimos três anos.
Em novembro passado, a justiça russa condenou uma pediatra de 65 anos de Moscovo a cinco anos e meio de prisão. Foi acusada pela mãe de um dos seus pacientes de ter criticado o ataque russo à Ucrânia durante uma consulta.
Em declarações à AFP, alguns dias antes da audiência, Lyudmila Vassilieva explicou as suas ações por considerar que "não é uma pessoa indiferente".
"Sempre fui uma pessoa que não é indiferente. Estive sempre do lado dos mais fracos, tal como a minha mãe", explicou.
E o apelo à "paz" lançado no centro de São Petersburgo, acrescentou, não se dirigia às autoridades russas, mas sim a "todo o povo", porque é ele "que pode ter influência e travar" o conflito, disse Lyudmila Vassilieva.
O cerco de Leninegrado, que durou de 08 de setembro de 1941 a 27 de janeiro de 1944, continua a ser um símbolo da resistência soviética à Alemanha nazi.
Durante este trágico episódio da Segunda Guerra Mundial, morreram entre 600.000 e 1,5 milhões de pessoas, a maior parte delas de fome.