"A Sérvia enfrenta uma escolha estratégica, geoestratégica, sobre onde quer estar", afirmou Kaja Kallas, durante uma visita a Belgrado.

"O futuro europeu da Sérvia depende dos valores que escolher defender", comentou a alta representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança.

A visita de Kallas à Sérvia ocorre poucas semanas depois de o Presidente sérvio, Aleksandar Vucic, ter desafiado os avisos da UE e ter assistido ao desfile do Dia da Vitória na Rússia.

A presença de Vucic em Moscovo foi amplamente condenada em Bruxelas, com responsáveis a alertarem que tais ações comprometem seriamente o percurso da Sérvia em direção à UE, considerando que não era apropriado que Vucic estivesse lado a lado com o Presidente russo, Vladimir Putin, tendo em conta a invasão da Ucrânia pela Rússia, desde fevereiro de 2022.

Kallas afirmou que discutiu a visita com Vucic: "E expressei a minha opinião, que é muito clara".

"Não compreendo porque é que é necessário estar lado a lado com a pessoa que está a conduzir esta guerra horrível na Ucrânia", comentou, referindo que Vucic "explicou a sua versão da história" e os dois tiveram "uma discussão muito extensa sobre este assunto".

Vucic, um antigo nacionalista extremista criticado no país e no estrangeiro por alegadas formas cada vez mais autoritárias, tem mantido relações estreitas com a Rússia e a China, ao mesmo tempo que formalmente quer que a adesão da Sérvia à UE.

O Presidente sérvio argumentou que a decisão de assistir à parada militar de Putin, que assinalou a vitória da Segunda Guerra Mundial sobre a Alemanha nazi, fazia parte dos esforços para manter as "amizades tradicionais" - a Rússia é um país eslavo e cristão ortodoxo -, ao mesmo tempo que procura aderir à UE.

A Sérvia, que depende quase totalmente da Rússia para obter energia, recusou-se a aderir às sanções ocidentais contra a Rússia devido à invasão da Ucrânia e não apoiou a maioria das declarações da UE a condenar a agressão.

Vucic também tem estado sob pressão em casa, após seis meses de grandes protestos anticorrupção que começou depois da tragédia de uma estação de comboios no norte da Sérvia, na qual morreram 16 pessoas e que muitos no país atribuíram à corrupção de funcionários do Estado durante a construção de infraestruturas.

"As discussões que tive com os líderes políticos sérvios deixaram claro que a adesão à UE continua a ser um objetivo estratégico", afirmou Kallas.

"No entanto, gostaria de sublinhar que precisamos de ver ações que comprovem e apoiem essas palavras", comentou.

Kallas destacou que "as reformas são a forma de a Sérvia avançar na via da adesão à UE" e deixou o aviso: "Não há atalhos para a adesão. Têm de ser feitos verdadeiros progressos aqui em Belgrado".

A chefe da diplomacia da UE também se encontrou com "a juventude" em protesto, referindo-se aos estudantes que lideraram meses de manifestações, e apelou para que a Sérvia faça esforços sérios em matéria de liberdade de imprensa, combate à corrupção e reforma eleitoral.

"Estas reformas trarão benefícios reais para os cidadãos e para o povo da Sérvia, como centenas de milhares de manifestantes têm vindo a exigir nas últimas semanas. A autonomia das universidades deve ser respeitada", afirmou.

A partir de Belgrado, Kallas deslocou-se à antiga província sérvia do Kosovo, que declarou unilateralmente a independência em 2008, um ato que a Sérvia não reconhece.

As conversações entre os dois Estados vizinhos, mediadas pela UE, estão há muito congeladas. Kallas lembrou que a normalização das relações entre a Sérvia e o Kosovo "é fundamental" para o futuro europeu.

"Chegou o momento de os dois países ultrapassarem o passado e concentrarem-se no futuro comum", afirmou.

"Tenciono convidar os representantes de Belgrado e de Pristina a deslocarem-se a Bruxelas o mais rapidamente possível para discutir os passos concretos a dar", comentou.

Kallas está a realizar, até sexta-feira, uma visita aos seis países dos Balcãs Ocidentais, que estão em diferentes fases de adesão.

A invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, incentivou os líderes europeus a pressionar os países a aderirem ao bloco, temendo a instabilidade.

Kallas afirmou-se "profundamente empenhada em encorajar todos os países dos Balcãs Ocidentais a aproveitarem realmente o atual impulso para o alargamento".

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