Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), terceiro nas sondagens, e Merz, o candidato da União Democrata-Cristã (CDU) e da sua congénere bávara, a União Social-Cristã (CSU), favorito nas sondagens, debateram hoje, ao longo de duas horas, juntamente com o candidato dos Verdes, Robert Habeck -- parceiro de Scholz no governo -- e com a candidata da Alternativa para a Alemanha (Afd), em segundo lugar nas intenções de voto.

Nenhum partido deverá conseguir obter maioria para governar sozinho e a última semana será decisiva para atrair os votos dos eleitores indecisos -- um terço dos quase 60 milhões de eleitores ainda admitem mudar de opinião ou não ir votar, segundo uma sondagem da ARD ARD Deutschlandtrend divulgada na sexta-feira.

O debate arrancou com os temas que têm dominado a campanha eleitoral: o endurecimento da política de imigração, bandeira da AfD, depois de ataques de requerentes de asilo, e aproximações à extrema-direita.

Scholz voltou a criticar Merz por, há duas semanas, ter conseguido aprovar pela primeira vez no Parlamento uma moção não vinculativa com o apoio da AfD e por tentar fazer o mesmo com um projeto de lei.

O conservador, cuja iniciativa provocou protestos em massa em todo o país e foi criticada pela sua antiga líder da CDU e chanceler, Angela Merkel, reiterou que iria "manter afastada" a "víbora" da AfD, que classificou como "um partido radical de direita, em grande parte extremista de direita".

"Somos um partido liberal-conservador", defendeu Weidel.

Também Scholz coincidiu nos ataques à AfD, garantindo que "não haverá colaboração com a extrema-direita".

O chanceler recordou que um responsável da AfD apelidou o nacional-socialismo e os crimes contra a humanidade cometidos na Segunda Guerra Mundial como "excremento de pássaro", uma comparação que Weidel considerou "ultrajante".

Merz interrompeu-a para exprimir a sua indignação por a candidata da extrema-direita ter afirmado, numa entrevista publicada no Bild, o diário mais lido na Alemanha, que podia imaginar que o líder da AfD no estado da Turíngia, o radical Björn Höcke, pudesse vir a ser ministro.

"Toda a gente pode chamar-lhe legalmente nazi", recordou o democrata-cristão, referindo-se ao facto de o Gabinete para a Proteção da Constituição ter classificado o ramo regional de Höcke como sendo de extrema-direita.

Dirigindo-se a Weidel, Merz afirmou: "O que disse aqui esta noite sobre política económica, política tributária, política social, isso não é o nosso programa. Não queremos isso e também não faremos isso consigo".

O candidato da União a chanceler acrescenta: "Para ser honesto, senhora Weidel, não chegaremos a isso, mas não vou sentar-me na mesma sala que o senhor Höcke".

Quanto à imigração, Merz voltou a confrontar Scholz afirmando que "em quatro dias chegam ao país tantos novos imigrantes ilegais como as deportações num mês".

O chanceler sublinhou que, no ano passado, as chegadas ilegais foram reduzidas em 100.000 pessoas e que este ano haverá outra redução semelhante, assegurando que durante os seus três anos de mandato houve um aumento de 70% nas deportações.

Após o atentado de quinta-feira em Munique, perpetrado por um afegão, Merz argumentou que o governo alemão é o único na Europa que ainda aceita refugiados do Afeganistão e que, para alterar esta situação, talvez fosse necessário falar com os talibãs.

Scholz respondeu que já houve um voo de deportação para o país da Ásia Central e que haverá outro no futuro.

Esta foi uma das poucas questões em que Habeck reagiu com firmeza, lembrando a Merz que os talibãs são "um regime de terror" e que os "pequenos contingentes" de refugiados que chegam são pessoas que ajudaram a Alemanha no passado.

Por sua vez, Weidel prometeu "travar a imigração ilegal" através de controlos fronteiriços constantes, 24 horas por dia, e da deportação igualmente constante de "criminosos e ilegais neste país".

No entanto, relata a agência espanhola EFE, não explicou como e com que pessoal pretende "proteger" cerca de 4.000 quilómetros de fronteiras.

Scholz e Merz voltaram a concordar nas críticas às declarações do vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, que na sexta-feira, durante a Conferência de Segurança de Munique, argumentou que a liberdade de expressão está ameaçada na Europa e que "vozes alternativas" não devem ser excluídas, pedindo a remoção dos 'cordões sanitários'.

"Não vou permitir que um vice-presidente americano me diga com quem tenho de falar aqui na Alemanha", sublinhou Merz, enquanto Scholz voltou a classificar como "inaceitável" o comportamento.

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