Os enfartes ou hemorragias cerebrais (Doenças Cerebrovasculares (DCV)), são acontecimentos súbitos que podem ter consequências devastadoras. Para além de poderem ocasionar danos físicos, estas doenças podem ainda impactar, de forma menos percetível, mas não menos incapacitante a saúde mental e cognitiva da pessoa que a sofreu. A Organização Mundial de Saúde entende a Saúde Cerebral como a manutenção da capacidade do cérebro para funcionar eficazmente em áreas cognitivas, motoras, emocionais e sociais. A Saúde Cerebral é, por isso, considerada um pilar fundamental para manter o desempenho cognitivo e funcional, promovendo o bem-estar social, produtividade e a criatividade em todas as fases da vida.

O Défice Cognitivo Vascular (DCV) resulta de lesões vasculares, podendo surgir subitamente após um AVC ou desenvolver-se gradualmente no contexto de doença vascular de pequenos vasos cerebrais. O DCV engloba um amplo espectro de problemas cognitivos, que vão desde simples queixas de memória até à demência, constituindo assim uma séria ameaça à Saúde Cerebral.

A Comissão Permanente da Lancet sobre a demência, em 2024, revelou que até 45% dos casos de demência podem ser prevenidos/adiados através do controlo de 14 fatores de risco modificáveis. Entre estes, incluem-se alguns com impacto direto na DVC — como ahipertensão, diabetes, dislipidemia, obesidade, tabagismo, sedentarismoe oconsumo excessivo de álcool. No âmbito do Dia Mundial da Produtividade torna-se crucial, por estas razões, lembrar que investir na prevenção da DVC não só previne o DCV como salvaguarda a Saúde Cerebral, contribuindo para uma vida mais ativa, autónoma e, consequentemente, para o aumento da produtividade individual e coletiva.

Autor: Pedro Miguel Abreu

Cargos: Neurologista, membro da Sociedade Portuguesa do AVC, serviço de Neurologia do Hospital Universitário de São João, RISE-Health, departamento de Neurociências Clínicas e Saúde Mental, Faculdade de Medicina, Universidade do Porto.

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