Pelo menos um diplomata português e outro brasileiro estavam entre uma delegação de embaixadores alegadamente alvo de disparos do exército israelita em Jenin, na Cisjordânia ocupada, reportou esta quarta-feira a agência noticiosa palestiniana, que adiantou que ninguém ficou ferido.

A WAFA, que cita o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana (AP), partilhou imagens dos ataques, que tiveram como objetivo "intimidar", nas quais se veem pelo menos dois israelitas fardados a disparar na direção de um grupo de pessoas que estavam a dar entrevistas.

A Lusa contactou o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) português para confirmar o sucedido e este adiantou que na delegação de diplomatas estava o chefe de missão diplomática em Ramallah, Frederico Nascimento, que se encontra a salvo.

Mais tarde, numa publicação na rede social Twitter, o MNE português condenou “liminarmente o ataque do exército israelita à comitiva diplomática no campo de refugiados de Jenin, Cisjordânia” e revela que o ministro Paulo Rangel já “transmitiu toda a solidariedade ao Embaixador português que integrava a comitiva e tomará as medidas diplomáticas adequadas”.

A agência palestiniana referiu que além dos diplomatas português e brasileiro, figuravam na delegação representantes da União Europeia (UE), Áustria, Bulgária, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Itália, Lituânia, Polónia, Reino Unido, Roménia, Rússia, Turquia, China, Canadá, México, Índia, Japão, Sri Lanka, Egito, Jordânia e Marrocos, bem como um número indeterminado de diplomatas de outros países.

Tiros de advertência, dizem tropas israelitas

Segundo a Autoridade Palestiniana, o grupo de diplomatas que foi alvo de disparos quando visitava Jenin, encontrava-se em missão oficial para observar a situação humanitária na cidade da Cisjordânia ocupada por Israel quando se ouviram tiros.

Um trabalhador humanitário, citado pela agência noticiosa Associated Press (AP) e que não quis ser identificado por receio de represálias, disse que uma delegação de cerca de 20 diplomatas estava a ser informada sobre a situação em Jenin pela Autoridade Palestiniana.

O grupo de diplomatas regionais, europeus, asiáticos, africanos e ocidentais estava junto à entrada do campo de refugiados de Jenin quando ouviram tiros pouco antes das 14:00 locais (12:00 em Lisboa), embora não se saiba de onde vieram os tiros, disse.

Jenin tem sido o local da repressão generalizada de Israel contra os militantes da Cisjordânia desde o início deste ano.

Entretanto, o jornal The Times of Israel, na sua edição 'online', confirmou que tropas israelitas dispararam tiros de advertência para o ar quando diplomatas estrangeiros visitam Jenin, na Cisjordânia, sem que se tenham registado feridos.

Numa curta notícia, em que mostra algumas imagens do incidente, o jornal refere que as Forças de Defesa de Israel (FDI) não fizeram, para já, qualquer comentário.

Vídeos do incidente publicados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana mostram dezenas de pessoas, incluindo fotógrafos, perto de um posto de controlo do exército em Jenin.

Os soldados são vistos a disparar para o ar e a rasar o campo de refugiados palestinianos de Jenin. Imediatamente depois, o grupo de diplomatas foge de volta para os carros. Não há relatos de feridos, frisa o The Times of Israel.

Um jornalista da AFP, que se encontrava um pouco mais longe do local onde a cena se terá desenrolado, confirmou ter ouvido vários tiros antes de filmar vários carros diplomáticos a abandonarem apressadamente o local.

Questionado pela AFP, o porta-voz do exército israelita disse estar "a verificar esta informação".

"Era a última parte da visita e, de repente, ouvimos tiros vindos do campo de refugiados de Jenin", disse um diplomata à AFP, sob anonimato. "Não foi apenas uma ou duas vezes. Foram tiros repetidos. Isto é uma loucura. Não é normal", acrescentou.