Paulo Alves ainda digere a ‘azia’ e o desconforto pelo facto de a direcção do partido ter revisto a decisão da escolha de candidato à Câmara Municipal de Santa Cruz, dando o dito pelo não dito, puxando-lhe o 'tapete' e abrindo caminho a Élia Ascensão. Num artigo de opinião publicado hoje, na edição impressa do DIÁRIO, e que também pode ler 'on-line' (conteúdo premium) aqui, com o título “Perdoa-se mas não se esquece”, Paulo Alves expõe o processo interno, denuncia pressões e acusa publicamente figuras, eventualmente próximas da candidata, de o terem difamado de forma orquestrada.

Paulo Alves foi inicialmente escolhido pela concelhia, num processo que culminou com o seu nome aprovado por maioria na Comissão Política Regional do partido. “Após ter acontecido a votação dos militantes da concelhia (da qual é presidente a actual candidata) que me deu a maioria, e depois da Comissão Política ter indicado, por maioria, o meu nome, acontece uma mudança com base numa sondagem”, escreve o militante, aludindo ao levantamento que, segundo refere, atribuía 61‰ das intenções de voto a um dos três nomes testados, e 39 por cento aos indecisos ou nulos. É com ironia que questiona: “Será que a birra compensa?! Na política séria e honesta não vale tudo!”

No texto, aquele chegou a ser e deixou de ser candidato à edilidade, relembra que esta não é a primeira vez que enfrenta resistência interna. Refere que há dois anos, o seu nome apareceu em número dois da lista do JPP, com aprovação da Comissão Política e do então presidente do partido, mas que foi publicamente “achincalhado” por apoiantes de outros candidatos. “Tudo porque não foi feita a vontade de ‘alguns’ em detrimento da decisão da Comissão Política”, acusa, reforçando que a pressão nas redes sociais e as mensagens injuriosas foram tão violentas quanto injustificadas.

Alves denuncia o que considera ter sido uma campanha de manipulação da opinião pública. “Uma ‘campanha’ feita com notícias tendenciosas, textos muito bem redigidos por jornalistas bem preparados para o efeito, que chegaram ao cúmulo de escrever palavras e expressões que eu não disse nem com o sentido e significado como foi tornado público”, critica.

Com ironia e amargura, refere ainda que nunca se refira a Élia Ascensão, o apoio a camarada recebeu de figuras públicas e políticos com ligações fora do concelho, não poupando nas palavras: “Agradeço a linguagem de baixo nível com que se dirigiu à minha pessoa”, escreveu sobre o ex-secretário de Estado Bernardo Trindade. Aponta também o professor Raimundo Quintal por ter falado em “palermice” nas redes sociais e acusa um chefe da PSP do Aeroporto de o ter difamado. “Uma nódoa na credibilidade da PSP que merece ser investigada”.

Apesar do tom crítico, Paulo Alves termina com uma mensagem de fidelidade ao JPP, sublinhando que o partido “não é um projecto de uma pessoa nem de uma família”, numa alusão clara à crescente personalização da estrutura em torno da Câmara de Santa Cruz. “O JPP é um partido político com origem num Movimento político e de cidadania (contra a vontade de ‘alguns’ que hoje ocupam cargos políticos graças ao partido), mas que tem vindo a crescer graças à dedicação e empenho de militantes e simpatizantes. Todos juntos, somos mais fortes”, escreve.

O artigo de Paulo Alves surge na sequência da confirmação de Élia Ascensão como candidata oficial do JPP à Câmara de Santa Cruz, uma decisão interpretada internamente como um recuo da direcção face à pressão mediática e preferências pessoais do ex-presidente Filipe Sousa. A crítica de Alves é clara: “Desvalorizar, negar-se a aceitar decisões tomadas por maioria dos elementos de um órgão partidário e fazer birras, são acções que ficam com quem as pratica”.