"Algumas padarias no sul e centro de Gaza (...) retomaram a produção de pão depois de dezenas de camiões terem sido finalmente autorizados a recolher produtos na passagem fronteiriça de Kerem Shalom e a entregá-los durante a noite", disse o PAM em comunicado.

Segundo a agência das Nações Unidas, "estas padarias estão agora operacionais e a distribuir pão", depois de as autoridades israelitas terem autorizado o acesso de uma quantidade limitada de ajuda humanitária ao território.

Dezenas de camiões entraram nos últimos dias no enclave palestiniano através da passagem de Kerem Shalom, na fronteira com Israel, permitindo que algumas padarias apoiadas pelo PAM recuperassem parte da normalidade ao fim de quase 80 dias de encerramento total.

No entanto, o PAM avisou que "as famílias ainda enfrentam um elevado risco de fome e é necessária muito mais ajuda" em toda a Faixa de Gaza.

"Estamos numa corrida contra o tempo para evitar que as pessoas morram de fome", alertou no comunicado Antoine Renard, responsável da agência para a Palestina, descrendo "uma população desesperada".

O atual fluxo de ajuda, prosseguiu, é "apenas uma gota no oceano" do que seria necessário para evitar os atuais "níveis catastróficos" de insegurança alimentar.

"As agências humanitárias precisam de acesso imediato, irrestrito e seguro para entregar ajuda vital a Gaza. Esta é a única forma de evitar um desastre totalmente prevenível", advertiu o responsável do PAM.

O comunicado referiu que os novos carregamentos de ajuda ao território incluem farinha de trigo, leite em pó para bebés, suplementos nutricionais para crianças desnutridas e material médico.

"Mas a assistência alimentar deve ir além de uma refeição por dia e são necessários itens alimentares mais diversificados para reduzir eficazmente o risco de fome", acrescentou o PAM, indicando que é preciso distribuir pacotes de alimentos diretamente às famílias, o que "não é permitido e precisa ser mudado".

A agência indicou que mais de 139 milhões de quilogramas de alimentos --- "o suficiente para alimentar toda a população durante dois meses" --- estão posicionados em corredores de ajuda e prontos para serem transportados para a Faixa de Gaza.

Nesse sentido, deixou o apelo a todas as partes para que "facilitem a entrega rápida, segura e sem impedimentos de ajuda em grande escala a mais de dois milhões de pessoas que enfrentam a fome" em todo o território.

Israel bloqueou a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza a partir de 02 de março, antes de quebrar o cessar-fogo que estava em vigor com grupo islamita palestiniano Hamas.

A Organização Mundial da Saúde alertou na semana passada que meio milhão de habitantes estavam à beira da fome devido ao bloqueio e, na terça-feira, o escritório de coordenação de assuntos humanitários da ONU (OCHA) avisou que até 14 mil bebés podiam morrer nas 48 horas seguintes se a ajuda não começasse a chegar.

Desde que anunciou no domingo a autorização da entrada de ajuda, Israel indicou que cerca de 200 camiões passaram até quarta-feira para o território, embora a ONU diga que apenas 90 conseguiram partir de Kerem Shalom.

Na quarta-feira, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse ser preciso "evitar uma crise humanitária" para manter "a liberdade operacional de ação" dos militares israelitas e conter a vaga de condenação internacional que tem sido ouvida nos últimos dias.

No fim de semana, Israel iniciou uma nova operação terrestre e aérea no território, após vários dias consecutivos de bombardeamentos que provocaram centenas de mortos, segundo as autoridades locais controladas pelo movimento islamita palestiniano Hamas.

O conflito foi desencadeado pelos ataques do Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, onde fez cerca de 1.200 mortos, na maioria civis, e mais de duas centenas de reféns.

Em retaliação, Israel lançou uma operação militar na Faixa de Gaza, que já provocou mais de 53 mil mortos, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.

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