
Antes da pausa para o almoço, a terceira sessão do julgamento do processo Marquês ficou marcada por um incidente que levou a juíza a fazer um pedido de desculpa: “O Tribunal lamenta o incidente ocorrido”. Destaque ainda para o facto de José Sócrates ter recorrido ao exemplo recente do caso Spinumviva, que envolve o atual primeiro-ministro Luís Montenegro.
Esta referência ao atual chefe do Governo aconteceu depois de José Sócrates ter dito que lhe foi pedida intervenção junto do governo de Angola relativamente ao grupo Lena. É, então, que os procuradores do Ministério Público perguntam se tinha tratado outras empresas da mesma forma.
Na resposta, Sócrates diz que ter “o maior gosto em explicar” e que não quer “invocar o princípio do atual primeiro-ministro, que se recusou a dar o nome das empresas para as quais trabalhava”.
“Foram várias. Duas ou três [empresas] trabalhavam com o governo da Venezuela. Várias me pediram para intervir junto do governo para serem recebidos. Foi isso que fiz. Eu não quero tambem desprestigiar essas empresas, trazendo-as para uma discussão. À falta de melhor, comprometo-me a trazer uma lista das empresas que me pediram intervenção. Posso entregar, entrego-lhe a lista [mas] tenho de lhes pedir autorização. Se calhar até têm algum impedimento”, declarou em tribunal.
Interrompida escuta com conversa íntima de Sócrates, juíza pede desculpa
Foi já no final da manhã desta quarta-feira, pouco antes da pausa para o almoço, que após um pedido de reprodução de uma escuta que o incidente aconteceu.
Na escuta, que reproduzia um telefonema entre Sócrates e Henrique Granadeiro, ouve o antigo primeiro-ministro a falar com o antigo presidente da PT sobre a conversa intíma que tinha tido com os históricos socialistas Mário Soares e Almeida Santos.
A escuta foi, porém, interrompida não só pela linguagem usada mas, sobretudo, pelo tema. “O tribunal lamenta o incidente ocorrido”, diz a juíza Susana Seca.
Mas Sócrates reagiu. “Isto é um voyeurismo miserável e indigno, não só para mim que estou aqui a ouvi-las [mas também para] algumas delas [as pessoas referidas] já falecidas. Um procurador pede uma coisa destas ao tribunal?! Dois dos meus mais queridos amigos… Isto está a ser exposto desta forma lamentável pelo MP. Não têm o direito de usar isto!”