"Nadir Afonso: Território de Absoluta Liberdade" e "A Marginália de Amadeo", que vão ficar patentes em diferentes salas das exposições temporárias do museu, reúnem, cada uma, cerca de meia centena de obras dos "dois vultos da arte portuguesa", e enquadram-se no programa da Rede Portuguesa de Arte Contemporânea (REPAC).

No programa expositivo do museu, que continua a conjugar a expressão contemporânea com a arte rupestre do Parque Arqueológico, um projeto dedicado a Pablo Picasso pode vir a suceder, mais tarde, a estas mostras temporárias, adiantou à agência Lusa a presidente da Fundação Côa Parque, Aida Carvalho.

Para já, "Nadir Afonso: Território de Absoluta Liberdade" e "A Marginália de Amadeo" "são as grandes apostas do museu para o próximo verão", disse Aida Carvalho, acrescentando que a mostra dedicada a Nadir Afonso se prolongará até 02 de novembro, enquanto "A Marginalia de Amadeo" ficará patente até 27 de julho.

A responsável, de saída da presidência do Conselho Diretivo da Fundação Côa Parque, revelou ainda que deixa preparada a curadoria científica e técnica de uma grande exposição dedicada a Pablo Picasso, para as salas do Museu do Côa.

"Caberá agora ao próximo conselho diretivo da Fundação Côa Parque decidir se quer ou não manter esta exposição e em que contexto. A proposta está feita para que o museu a acolha, através do Museu Picasso [de Barcelona]", vincou Aida Carvalho.

Para a ainda presidente da fundação, que esta semana assumirá o seu lugar de deputada na Assembleia da República, eleita pelo distrito da Guarda, a realização de exposições de artistas contemporâneos como Paula Rego, Graça Morais, João Cutileiro, e agora Nadir Afonso e Amadeo Souza Cardoso, em territórios do interior, constitui "um sinal claro de que todos os territórios são territórios de oportunidades."

"Os visitantes têm vontade de encontrar estes grandes nomes" no Museu do Côa, sublinhou Aida Carvalho que, nos últimos quatro anos, viu o número de entradas aumentar 50 por cento e as receitas subir mais de 75 por cento. Para tal contribuíram a investigação permanente no Parque Arqueológico do Vale do Côa e as exposições temporárias em que a arte contemporânea tem sido dominante.

"Nadir Afonso: Território de Absoluta Liberdade" propõe uma viagem pelo universo criativo do artista, através de um conjunto de obras originais, muitas delas - cerca de metade das obras expostas - pinturas sobre tela, disse à Lusa a curadora Alexandra Silvano.

"Entre elas, destaca-se [um quadro] de grandes dimensões, da fase final da vida do artista", adiantou a curadora, acrescentando que "estas obras são verdadeiros testemunhos do vigor criativo que o acompanhou até ao fim."

Alexandra Silvano disse que esta exposição revela não só a profundidade estética da obra de Nadir Afonso, como também a liberdade com que sempre viveu e criou: "Leal às suas convicções e imune a modas ou imposições."

A exposição organiza-se por duas salas, indo de trabalhos mais precoces do surrealismo, aos mais tardios, do chamado organicismo e do período fractal.

"É aqui que encontramos obras dos anos 1940, ainda figurativas, mas já com um claro interesse pela geometria e pelas cidades. A cidade não é uma representação realista do que observamos; as suas Cidades são construções mentais, são visões organizadas ora com simplicidade geométrica, ora com uma complexidade visual crescente", explicou Alexandra Silvano à Lusa, não deixando esquecer a formação de Nadir Afonso como arquiteto e urbanista.

"Em Paris, colaborou no ateliê de Le Corbusier como arquiteto, e paralelamente desenvolveu a sua prática artística como pintor convivendo com figuras de destaque como Vasarely, Fernand Léger, Max Ernst, Portinari. Em 1965, decidiu abandonar em definitivo a arquitetura para se dedicar à arte".

Nadir manteve, no entanto, a cidade como "tema central e recorrente ao longo de toda a sua carreira [...], não como construção arquitetónica, mas como pintura e expressão de uma ideia."

Quanto a "A Marginália de Amadeo", o curador da exposição, Samuel Silva, explicou que reúne um acervo de desenho, rascunhos, esquissos encontrados nos manuais escolares do artista, pertencentes à sua família e à biblioteca da Casa Manhufe, em Mancelos, Amarante, no distrito do Porto.

"Vamos ter ainda exposto um conjunto de postais, cartas originais, algumas pinturas paradigmáticas dentro desta noção que é a ideia de margem", disse Samuel Silva à Lusa.

"Esta exposição vai revelar um Amadeo a partir da sua intimidade, da incerteza do traço, da teatralização da dúvida. No fundo fica a conhecer-se a sua inquietude expressiva que é revelada desde tenra idade", explicou o curador.

Samuel Silva, acredita que "os desenhos de Amadeo de Souza Cardoso possam criar uma interligação com as gravuras paleolíticas do Vale do Côa [...], num diálogo apaixonante que chegará ao território."

Desde 2022, as exposições mais visitadas do Museu do Côa foram "Paula Rego - Rotura e Continuidade" (60 mil pessoas), "Dark Safari", a partir da Coleção de Arte Contemporânea do Estado (38 mil), e "Mapas da Terra e do Tempo", de Graça Morais (37 mil pessoas).

 

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