A suposta aproximação entre o Irão e os Estados Unidos, na sequência do alegado encontro entre o embaixador iraniano na ONU, Saeed Iravani, e o conselheiro do presidente eleito dos EUA, Elon Musk, gerou controvérsia no país persa, com reações contra e a favor.

As críticas mais duras chegaram hoje por parte do diário ultraconservador “Keyhan”, próximo do líder supremo iraniano, Ali Jameneí.

Numa coluna do chefe de redação, Hosein Shariatmadari, intitulada "Reunião secreta com o representante de Trump, ingenuidade ou traição?", o órgão de comunicação social criticou o encontro entre o representante do Irão na ONU e o chefe do novo departamento de Eficiência Governamental do próximo governo de Trump.

O encontro terá ocorrido na segunda-feira e foi noticiado pelo “The New York Times” na quinta-feira, ainda que as partes não tenham oficialmente confirmado ou negado.

Perante a alegada aproximação, o diário acusou o campo reformista que procura abertura nas relações com o Ocidente, incluindo os EUA.

"Numa situação em que os Estados Unidos são parte devedora do acordo nuclear e devem pagar pelos danos e prejuízos ao Irão por violar o pacto, os defensores da reforma e voz interna da campanha do Ocidente contra o Irão esforçam-se para abrir caminho a negociações com este país terrorista", denunciou o diário.

Shariatmadari recordou a saída unilateral de Washington em 2018 do acordo nuclear assinado três anos antes entre o Irão e o grupo 5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha).

O pacto limitava o programa nuclear iraniano a troca do levantamento das sanções internacionais contra Teerão, o que acabou com a saída dos Estados Unidos durante o primeiro mandato de Trump (2017-2021) e a imposição das medidas restritivas contra o país persa, o que levou a inflação no Irão para cerca de 40%.

Para o chefe de redação do “Keyhan”, estas alegadas reuniões com representantes da próxima administração de Trump dão reputação aos EUA e "evitam uma vez mais que o Irão alcance os seus direitos", sem explicar a que se refere.

"Os apoiantes de reformar querem que o Irão se apresente na mesa do julgamento como o réu", indicou Shariatmadari, acrescentando que Teerão é o queixoso e que são os EUA quem "deve pagar os danos e prejuízos por violar o seu compromisso" com o acordo nuclear.

"O Irão envia uma mensagem de autoridade ao mundo, estabelece equações regionais com autoridade e os círculos estrangeiros acreditam que o Médio Oriente, que esteve nas mãos dos EUA durante muito tempo, já não está nas mãos da Casa Branca. No entanto, a campanha do Ocidente contra o Irão é para repetir a diplomacia da mendicidade", assinalou.

O jornalista e ativista político reformista Ahmad Zaidabadi contra atacou o diário, dizendo ser muito natural que o órgão de comunicação social ultraconservador critique a aproximação com Washington, como aconteceu com a presidência do moderado Masud Pezeshkian.

“Se a mesma coisa tivesse acontecido durante a presidência de Mahmud Ahmadineyad (2005-2013) ou do falecido Ebrahim Raisí (2021-2024), o ”Kayhan" tê-la-ia apresentado como uma obra-prima diplomática ou uma vitória sem precedentes", afirmou Zeidabadi no canal do Telegram.

O diário “Jomhourie Eslami”, próximo aos reformistas, deu as boas-vindas às conversações com Washington.

"Podem considerar-se como o início de um novo caminho na política externa do nosso país", lê-se num artigo do jornal, que sublinhou que o Governo iraniano deu sinais de querer diminuir as tensões com os EUA.

"Não há dúvida que a democracia é mais forte e eficaz que qualquer outra arma, se for calculada, inteligente e planificada", acrescentou.

Desde a eleição de Trump como presidente dos EUA a 05 de novembro, que os responsáveis iranianos têm tentado convencer o republicano a não voltar à pressão máxima sobre o Irão, que afundou a economia do país persa.