Para Luís Marques Mendes, os dados sobre Portugal patentes no relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e desenvolvimento Económico) - que avalia a literacia, a numeracia e a capacidade de resolução de problemas entre a população adulta (16-65 anos) - “são mesmo muito maus, nos vários domínios”.
“Eu acho que Portugal sempre teve um problema sistémico, um problema estrutural, em matéria de educação. Mas a sensação que eu tinha é que apesar de tudo, o problema não tinha esta dimensão”, disse, este domingo, no habitual espaço de comentário da SIC.
Para o comentador, os investimentos feitos em matéria de educação nos últimos anos “não foram suficientes”, nem “eficazes”. As dificuldades que Portugal apresentou no relatório, nos vários domínios, representam problemas para o “mercado de trabalho” e no “domínio da cidadania”.
Marques Mendes deixa agora a responsabilidade do lado do Governo que deve “nos próximos três, quatro meses, suscitar um debate e apresentar propostas para mitigar esta situação”. “Não se pode ficar de braços cruzados”, acrescentou.
Turismo na saúde “é uma tempestade num copo de água”
Sobre a questão que tem marcado os últimos dias - o “turismo na saúde” - Marques Mendes considera que essa polémica “é uma tempestade num copo de água”. Para o comentador existe, de facto, um problema que já foi reconhecido tanto pelo Governo, como pela oposição, que está relacionado com a existência de estrangeiros que “de forma ilegal e abusiva, estão a usar o Serviço Nacional de Saúde”, um problema que ainda não foi quantificado.
Na ótica de Luís Marques Mendes, a ideia de mudar a lei “é correta”, mas é igualmente necessário que “não pague o justo pelo pecador”. Para tal, é positivo seguir o caminho aconselhado pela ex-ministra da Saúde, Maria de Belém Roseira, que acredita que no momento na discussão da lei é necessário que sejam ouvidos especialistas, para que “a redação final seja rigorosa e cuidada, com estes dois objetivos: combater o abuso, mas impedir que algumas pessoas sejam injustamente afetadas".
Ainda no âmbito da migração, a ideia de criar uma espécie de ‘Via Verde’ para a contratação de mão de obra imigrante, proposta pelo executivo de Luís Montenegro, é “uma excelente ideia” aos olhos de Luís Marques Mendes. O acordo prevê, do lado do Governo, uma maior rapidez na concessão dos vistos de trabalho dos imigrantes e, do lado das entidades empregadoras, a garantia de integração dos mesmos.
Para o comentador político, este acordo pode ser entendido como “um investimento” para as empresas, dada a necessidade urgente de arranjar mão de obra.
Portugal pode beneficiar muito do acordo entre a UE e o Mercosul
Luís Marques Mendes vê com bons olhos o acordo que está a ser negociado entre a Comissão Europeia e os países do Mercado Comum do Sul (Mercosul), composto por países como o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, que prevê a eliminação de tarifas aduaneiras e a troca de grandes volumes de produtos e serviços entre os dois blocos económicos. “É muito bom para as exportações das empresas da União Europeia, entre as quais a nossa”, comentou.
“Portugal pode beneficiar muito se este acordo for por diante. Já temos cerca de 3 mil empresas que exportam para esta região, para o Mercosul, num valor que, segundo os números oficiais, apontam para 1,1 mil milhões de euros”, acrescentou Marques Mendes, no habitual espaço de comentário da SIC.
Numa altura em que as principais economias europeias apresentam fragilidades e em que Donald Trump quer aumentar as tarifas aduaneiras sobre os produtos europeus, a Europa pode ter nos países da América do Sul “uma alternativa”, “uma outra porta aberta”.
A aprovação do acordo constitui-se, aos olhos de Luís Marques Mendes, como “um grande desafio” para António Costa, agora presidente do Conselho Europeu. “Vai ser importante fazer pontes junto destes países (do Mercosul) para ver se este acordo não chumba no Conselho Europeu. Se chumba, eu diria que é mais uma desilusão”, disse. “Se a Europa pensar estrategicamente não pode desperdiçar esta oportunidade”, acrescentou.
No que diz respeito às previsões do Banco de Portugal, que antecipam um regresso ao défice orçamental, Marques Mendes diz que é necessário “esperar para ver”, uma vez que esta é a única entidade que antecipa este cenário.