Cientistas chineses descobriram que o manto lunar contém menos água no lado oculto da Lua do que no lado visível, virado para a Terra. A conclusão resulta da análise de basaltos recolhidos pela missão lunar Chang’e-6, que trouxe amostras dessa zona da superfície para estudo em laboratório — algo inédito até agora.

Os dados obtidos a partir de amostras trazidas pela missão Chang’e-6 da Administração Espacial Chinesa sugerem que a distribuição da água no interior da Lua poderá ser assimétrica — uma descoberta com implicações importantes para a compreensão da origem e evolução do satélite.

A investigação foi liderada pelo professor Hu Sen, do Instituto de Geologia e Geofísica da Academia Chinesa de Ciências, e contou com a colaboração da Universidade de Nanquim. Os resultados foram publicados na revista Nature.

Diferenças entre hemisférios lunares

Nas últimas duas décadas, diversos estudos com base em amostras recolhidas no lado visível da Lua já tinham revelado uma distribuição altamente desigual de água no seu interior.

Para aprofundar este conhecimento, a nova equipa concentrou-se na análise do conteúdo em água e dos isótopos de hidrogénio presentes nos basaltos trazidos do lado oculto. As diferenças identificadas apontam para uma possível dicotomia hemisférica na distribuição da água no interior da Lua ou seja, uma assimetria fundamental entre os dois lados do satélite.

Estimativas de água na Lua a partir de amostrar recolhidas pela missão chinesa Chang'e-6
Estimativas de água na Lua a partir de amostrar recolhidas pela missão chinesa Chang'e-6 SIC Notícias

Implicações para a origem da Lua

A nova estimativa do teor de água no manto lunar do lado oculto é considerada um avanço importante para refinar o chamado inventário hídrico da Lua - o conjunto de dados que ajuda a determinar quanta água existe (ou existiu) no seu interior.

Este conhecimento tem implicações diretas para teorias sobre a origem da Lua, incluindo a hipótese do grande impacto - segundo a qual a Lua terá resultado da colisão de um corpo celeste com a Terra primitiva.

A descoberta também reforça a ideia de que a água desempenhou um papel importante na evolução geológica da Lua, influenciando processos como a formação de crosta e a atividade vulcânica ao longo de milhares de milhões de anos.

O estudo contou com o apoio da Fundação Nacional de Ciências Naturais da China, do Programa de Investigação Prioritária Estratégica da Academia Chinesa de Ciências, e de outras agências financiadoras.

China planeia explorar o polo sul lunar em busca de água e recursos

A China planeia lançar a missão Chang'e-7 em 2026 para explorar o ambiente e os recursos do polo sul da Lua, especialmente a eventual existência de água. A missão seguinte, Chang'e-8, testará tecnologias para a construção de habitats utilizando solo lunar.