José Luís Carneiro foi este sábado eleito secretário-geral do Partido Socialista (PS). Como candidato único, sucede a Pedro Nuno Santos, que se demitiu após os resultados das últimas legislativas.

O novo líder socialista venceu com 95% dos votos, num ato eleitoral que teve 55% de abstenção. Dos 17,1 mil votantes, 16,3 mil votaram no antigo ministro da Administração Interna de António Costa.

Sem “táticas”, PS quer afastar-se da “política-espetáculo”

No primeiro discurso na qualidade de líder do Partido Socialista, José Luís Carneiro vincou, várias vezes, os “valores e princípios” de um partido “construível”, que assume com “honra e responsabilidade”.

“Acredito que os nossos valores ideais e propostas tem condições para continuar a ser maioritários no nosso pais. Trabalharei com todos para o conseguir demonstrar”, afirmou. “O PS que a partir de hoje tenho a honra de liderar é um partido de valores e princípios. Um partido que defende radicalmente o Estado de direito, inconformado e reformista. Inconformado com a injustiça, a desigualdade e a pobreza e com o atraso em muitos fatores que fazem a nossa economia. Um partido aberto à sociedade e disponível para discutir e propor novas políticas. No fundo, um partido construível.”

José Luís Carneiro fez questão de afastar rótulos colados ao seu antecessor, afirmando que o PS vai caminhar por um caminho “sem precipitações, sem tentações táticas e sem concentrar-se excessivamente em questões conjunturais". Quis também demarcar-se dos “muitos partidos que têm a tentação de ceder à ‘política-espetáculo’, à vertigem do momento e de procurar vedetismo individual”, deixando farpas ao Chega e ao Governo.

“Tomam decisões precipitadas, exploram medos e receios, inflamam as emoções, desprezam a solidez necessária a conceção, execução e avaliação das boas politicas públicas. Caminham sempre na procura de benefícios imediatos. Esses políticos minam a nossa coesão social, tiram-nos enquanto sociedade o futuro que merecemos."

“Esperem de mim uma postura diferente. Procuro ser uma pessoa ponderada. procuro ser parte da construção de caminhos melhores para o país. Tenho dito que é preciso ouvir mais e dar mais voz à sociedade. Temos de ir de encontro às necessidades das pessoas, nos rendimentos, na saúde, na habitação, nos transportes, nas condições de vida. Há os que o não querem fazer e, só por isso, mais do que para a realidade, criam e trabalham para as perceções.”

Governo “parece ameaçar os cidadãos em vários domínios”

O antigo ministro da Administração Interna de António Costa refere que o PS vai fazer uma oposição “leal, responsável, firme e estratégica” ao Governo, mas não deixa de tecer críticas ao Governo de Luís Montenegro, que “parece ameaçar os cidadãos em vários domínios essenciais”.

“Parece que querem enfraquecer o Estado Social, parece que querem abrir o caminho a negócios com funções sociais, que abdica de uma política económica sólida, que não protege a investigação a ciência, que desvaloriza a inovação, ignora a cultura, confunde a reforma do Estado com o enfraquecimento do Estado. O PS usará todos os instrumentos de fiscalização para se opor a medidas erradas, injustas ou ineficazes.”

Carneiro votou em Baião

O socialista votou esta tarde na sede concelhia do PS/Baião, na sua terra natal.. À noite, por volta das 20:30 e já em Lisboa.

Na sexta-feira, os militantes votaram em 15 das 21 federações do partido. No sábado, foram às urnas os socialistas das restantes seis distritais: Açores, Algarve, Braga, Coimbra, Porto e Viseu.

Estas eleições diretas do PS foram marcadas na sequência da demissão de Pedro Nuno Santos do cargo de secretário-geral, depois da pesada derrota eleitoral que o PS sofreu naslegislativas e que reduziu a bancada socialista a 58 deputados e terceira força política no Parlamento.

Na apresentação da candidatura, José Luís Carneiro, de 53 anos, apelou à união interna no partido, sem "golpes recíprocos" ou ficar a olhar para dentro, assegurando que não fará "ataques pessoais e superficiais na praça pública".

Prometeu que, sob a sua liderança, o PS será "determinado e enérgico na oposição" perante o que considerar retrocessos, mas também não terá receio em "promover consensos democráticos".

Na quinta-feira, numa das últimas ações de campanha, o socialista disse que tinha ficado "positivamente surpreendido com a forma como os militantes, os simpatizantes e até muita da sociedade civil" tinha participado nas iniciativas eleitorais um pouco por todo o país.

Artigo em atualização.