
O engenheiro civil Samuel Muzime, assessor do conselho de administração dos Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), proprietária do estádio, nos arredores de Maputo, coordena no terreno a operação de reabilitação do espaço que, em 25 de junho, vai receber as comemorações da independência, proclamada no mesmo dia e no mesmo local, em 1975, por Samora Machel.
Entre a azáfama de trabalhos e máquinas que não param no interior, nas bancadas e na envolvente, e que vai crescendo a cada semana desde setembro, a preocupação é terminar a obra a tempo, como explica Muzime à Lusa: "Realmente é a preocupação de todos nós. Estamos a fazer toda a pressão para que esteja tudo em condições, não para o estádio estar aprovado ao nível da CAF [Confederação Africana de Futebol], mas estamos a criar condições para atender à cerimónia [dos 50 anos de independência]".
"Há trabalhos que continuam 'à posteriori'. Então, esta é a nossa aposta, estamos a fazer tudo, e até agora as coisas estão sob controlo, para que não haja falhas até lá", disse.
No Estádio da Machava joga habitualmente, no futebol, o Clube Ferroviário de Maputo, um dos vários emblemas 'ferroviários' do país apoiados pelos CFM, mas há quatro anos que o espaço, multiuso, não é utilizado devido à falta de condições, sendo esta a primeira intervenção de fundo em mais de 50 anos.
Com capacidade oficial para 45.000 pessoas, começou a ser construído em 1963, num terreno com mais de 30 hectares, na Matola, e foi batizado então como Estádio Salazar, sendo inaugurado em 1968 com a também histórica partida de futebol entre as seleções de Portugal e do Brasil.
No mesmo local, já de nome Machava, como o bairro à volta, o primeiro Presidente de Moçambique proclamou a independência de Portugal, em 25 de junho de 1975: "Este é o primeiro Estado em que o poder nos pertence, este é o nosso país livre e independente, nascido do sacrifício, do sangue, e das ruínas", proclamou então Samora Machel, num estádio repleto que via nascer o novo país.
Apesar do momento histórico, a reabilitação do estádio não servirá apenas para as comemorações em 25 de junho, local onde chegará a designada "Chama da unidade nacional", que está a percorrer todo o país desde 07 de abril. As obras vão continuar logo depois e a expetativa é ser aprovado pela CAF para voltar a receber jogos da seleção moçambicana de futebol, atualmente impedida de jogar em território nacional após a interdição do Estádio Nacional do Zimpeto, em Maputo, por falta de condições.
"É um sonho, gostaríamos tanto, porque afinal de contas sempre foi isso. Houve um tempo que era entre o Estádio da Machava e o Zimpeto. Mas, pronto, que os dois campos estejam disponíveis, isso é bom para o país", desabafou o responsável pelo projeto de reabilitação.
E a aposta é que a partir de outubro o estádio esteja "pronto para acolher os primeiros eventos desportivos".
"Daqui até lá, depois desta cerimónia que temos, dia 25, já vamos fazer os trabalhos adicionais, complementares, para a aprovação. Nós estamos a tentar já também pôr o estádio na categoria 3, conforme o atual regulamento da CAF", acrescentou Samuel Muzime.
O problema neste processo é mesmo o custo dos trabalhos, que têm vindo a derrapar, fruto de intervenções imprevistas face à ausência de obras de fundo em meio século.
"Valores iniciais andavam na ordem de 10 milhões de dólares [8,8 milhões de euros], mas numa obra de 50 anos, fomos encontrando surpresas, já estamos desviados aqui, bem desviados, acho que pelo menos na ordem de 50%", observou.
Ainda assim, dentro de um mês, assume que tudo estará pronto: "Totalmente renovado, mas há algumas atividades que nem é prudente fechar até o dia 25, como a colocação da relva, se não fica danificada, as pessoas vão circular dentro do campo. A colocação das cadeiras também, porque depois devem estar em condições para o processo da aprovação".
Enquanto centenas de trabalhadores retocam azulejos, tratam do piso que mas tarde vai receber a relva, e pintam cada detalhe da estrutura, no exterior prossegue a limpeza do que ainda resta de anos de quase abandono.
Entre estes trabalhos e um calendário cada vez mais apertado, há também o sentimento de satisfação em quem sente que vai devolver a história à Machava.
"É com muito orgulho, é um trabalho ímpar para nós. Nos sentimos privilegiados por termos sido selecionados para levar avante este projeto, que é num campo tão emblemático para Moçambique e que não se faz todos os dias", afirmou Samuel Muzime.
*** Paulo Julião (texto), Fernando Cumaio (vídeo) e Luísa Nhantumbo (fotos) ***
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