
Caroline Darian apresentou esta quarta-feira queixa contra o pai, Dominique Pelicot, acusando-o de a ter drogado — à semelhança do que fez com a mãe, Gisèle — com a intenção de a violar ou de a agredir sexualmente, segundo adiantou a sua advogada, Florence Rault, à imprensa francesa.
Dominique está a cumprir pena máxima de prisão (20 anos) por ter drogado a sua mulher ao longo de nove anos para ser violada por 51 homens recrutados por ele num site, já fechado pelas autoridades. O caso, que ficou conhecido em setembro, começou por chocar França e rapidamente abalou o resto do mundo.
O agressor foi condenado, em dezembro, por crime de violação agravada e também por ter tirado e distribuído fotografias íntimas da mulher, da filha e ainda das duas noras. Agora, enfrenta uma queixa, apresentada por Caroline junto do Ministério Público de Versalhes.
Em concreto, a filha dos Pelicot acusa o pai de “administração de uma substância de natureza a afetar o discernimento com o objetivo de cometer uma violação ou uma agressão sexual”. Por outras palavras, alega que a sujeitou a submissão química para depois abusar dela, assunto que trata no livro que escreveu sobre o homem a quem deixou de chamar pai.
Dominique Pelicot, de 72 anos, foi descoberto em novembro de 2020: foi apanhado a fotografar por baixo de saias de mulheres num supermercado em Carpentras, Provença, no sudeste de França, e ficou sob custódia policial, na esquadra local. A sua conduta foi suficiente para as autoridades quererem investigar o seu telemóvel e computador, e neste último encontraram uma pasta com um título premonitório: “Abusos”. Nela constavam mais de 20 mil fotos e vídeos de Gisèle, inconsciente, a ser violada por dezenas de homens.
A pasta continha também duas imagens íntimas da filha, deitada numa cama, apenas de t-shirt e roupa interior. Caroline não se reconheceu imediatamente nas fotografias que o agente lhe mostrou na esquadra de Carpentras, porque não costumava dormir com aquelas roupas, nem naquela posição. Mas era de facto ela. As fotos foram distribuídas pelo próprio pai na Internet.
Durante o julgamento, entre setembro e dezembro do ano passado, Dominique admitiu os crimes a que submeteu a mulher com quem estava casado há 50 anos e com quem teve três filhos, mas negou o que Caroline suspeitava: que também a drogou, “provavelmente para abuso sexual”.
Ainda assim, apesar de não haver provas novas, nem indícios, no geral, de ter sido sujeita a submissão química e/ ou agressão sexual, Caroline avançou com uma queixa formal através da advogada. Acredita que foi vítima de abuso sexual, enquanto estava sedada, potencialmente durante dez anos, entre 2010 e 2020.