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O que sentiu quando ouviu o seu nome na Gala?
Senti-me contente, não tinha a certeza de que iria ganhar. E, também, porque estava acompanhada com o meu marido, o meu filho mais novo – que está a terminar o curso de Medicina – e com a minha mãe, que tem 87 anos. Para eles também foi muito importante ter recebido este Prémio.
O que a levou a ser médica de família?
Antes de mais, o que me levou a ser médica! Foi uma decisão que tomei quando terminei o 12.º ano. Não era um sonho de criança, foi algo pensado. Achei que era a maneira mais direta de ser útil, de aliviar o sofrimento e de combater a injustiça. Todas as formas de trabalho honestas podem ser úteis à sociedade, mas achei que a Medicina era aquela área em que, inevitavelmente, se pode fazer a diferença na vida das pessoas. Tinha notas boas e podia perfeitamente escolher Medicina. Mas o curso não foi fácil de fazer, porque sempre tive mais jeito para as Ciências Exatas – Matemática, Física, Química – e as Ciências Humanas e a Biologia são menos intuitivas e exigem mais memorização. Mas como queria, de facto, ser médica fiz o curso com muito esforço e dedicação.
“Enquanto a Medicina foi muito bem aceite e aplaudida pela família, o mesmo não aconteceu com a Clínica Geral. Dentro da Medicina, optar por esta área – que mal se conhecia e que era vista como de segunda – foi malvista”
E porquê a opção por Clínica Geral – na época ainda não era Medicina Geral e Familiar (MGF)?
Bem, essa opção… Enquanto a Medicina foi muito bem aceite e aplaudida pela família, o mesmo não aconteceu com a Clínica Geral. Dentro da Medicina, optar por esta área – que mal se conhecia e que era vista como de segunda – foi malvista. Mas pensei que seria aquela onde poderia ser mais útil para combater a injustiça. E, ainda hoje acho que uma boa Medicina Familiar e uns bons cuidados de saúde primários (CSP) são, provavelmente, a forma mais garantida de se conseguir uma maior justiça no acesso e na qualidade dos cuidados de saúde. Um maior acesso à Saúde, no global.
Lembro-me que quando tive a cadeira de Dermatologia, fiquei fascinada por esta especialidade, mas não pelo que, atualmente, leva muitos jovens a optar pela mesma: ter ‘qualidade de vida’, ganhando muito, trabalhando menos horas e sem bancos de urgência. Era muito interessante para mim, porque gosto muito de tudo o que tenha a ver com a pele, que afeta inclusive a relação entre as pessoas. Atraía-me também o facto de esta especialidade estar interligada com a Anatomia Patológica, a Microbiologia, a Cirurgia…
Quando chegou a hora de me decidir, tinha nota suficiente para escolher Dermatologia, mas, entretanto, tinha tido outras experiências durante o curso, que me levaram a optar pela Clínica Geral. Fiz voluntariado, nos últimos anos do curso, no bairro onde morava, em Lisboa. Visitava pessoas que viviam sozinhas e que estavam ‘prisioneiras’, porque, como não havia elevadores nos prédios, e, por incapacidade de se deslocarem, ficavam em casa. Como não desciam as escadas, eram obrigadas a ficar confinadas. Sendo pobres, não tinham acesso a cuidados médicos, porque os médicos não iam a casa e os que iam cobravam muito dinheiro. E aí percebi que havia uma especialidade que permitia aos médicos do setor público ir ao domicílio.
No 6.º ano também tive uma cadeira sobre esta área com o Prof. Luís Rebelo e abriu-se-me uma outra possibilidade de fazer Medicina. Além disso, gostava das várias áreas: crianças, adultos, pessoas doentes, pessoas saudáveis. Tinha muita dificuldade em escolher uma área em concreto para me dedicar em exclusivo. Arrisquei! Mas esta escolha não foi nada aplaudida pela família ou pelos colegas mais velhos, que achavam que era um desperdício, face à boa qualificação que obtive no exame de acesso à especialidade. Achavam que devia ter aproveitado uma outra “de jeito”.
Hoje, estou agradecida à Alexandra que, aos 25 anos, foi suficientemente arrojada por ter seguido a Clínica Geral. Tenho sido muitíssimo feliz na minha vida profissional de médica de família. E também acho que tenho conseguido ser muito útil, tendo muito impacto na vida das pessoas. A MGF, esta maravilhosa especialidade, tem permitido combater a injustiça e evitar o sofrimento das pessoas.
Como foram os primeiros tempos da reforma, tendo em conta que ainda soube, na prática, o que era trabalhar em modelo Alfa?
Terminei a especialidade em 1995 e no ano seguinte começou a reforma dos CSP com os projetos Alfa. É aí que inicio a minha vida profissional, no projeto Alfa Fernão Ferro Mais, onde estive desde setembro de 1996 até ao final de 2021, quando saí para me lançar na aventura das vias verdes saúde (VVS). Estive 25 anos na mesma unidade, a acompanhar in loco e a construir com as minhas mãos e, com as da restante equipa, a reforma dos CSP.
Fomos dos primeiros projetos Alfa. Depois, quando se incrementou o Regime Remuneratório Experimental (RRE), que foi um predecessor em termos remuneratórios das USF, não aderimos. E porquê? Porque o RRE contemplava apenas os médicos e, como a nossa equipa era tão multiprofissional – com decisões conjuntas entre médicos, enfermeiros e secretários clínicos –, não fazia sentido que só os médicos fossem remunerados diferenciadamente. Não aderimos ao RRE, mas assim que começaram as USF fomos também uma das primeiras USF modelo A e, posteriormente, uma das primeiras USF modelo B.
“As minhas maiores ‘dores de cabeça’, quando fui coordenadora da USF Fernão Ferro Mais (durante alguns anos), foi a não-resposta ou a lentidão da mesma por parte da ARS e também da ACSS”
O que foi mais desafiante nesse processo?
Foi tudo: construir uma equipa, aumentar o acesso – e foi muito – a cuidados por parte da população, gerindo a procura excessiva. Isso foi muito difícil! Mesmo que as pessoas não precisassem, objetivamente, de cuidados, iam à USF. Essa equação ainda não consegui resolver. É sempre assim: maior oferta condiciona maior procura. Depois, o que também foi muito complexo e desafiante, foram os tempos de impasse, que surgiram sempre por causa de decisões e mudanças políticas. Ao longo destes anos, houve governos que empataram, claramente, o desenvolvimento do processo.
Outra muito complicada: era bastante fácil gerir o nosso ‘barco’, mas este dependia em muitos aspetos de outros, de estruturas superiores. Se, por um lado, os nossos diretores do agrupamento de centros de saúde (ACeS) facilitavam a vida das unidades, eles próprios eram, por sua vez, dependentes da administração regional de saúde (ARS). E a ARS era uma máquina muito pesada e muito pouco ágil. As minhas maiores ‘dores de cabeça’, quando fui coordenadora da USF Fernão Ferro Mais (durante alguns anos), foi a não-resposta ou a lentidão da mesma por parte da ARS e também da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) a necessidades básicas em termos de pessoal, equipamentos, obras.
“A ULS é um modelo útil e ágil, mas poderia sê-lo ainda mais se não fosse dependente desta forma de estruturas superiores”
Com a unidade local de saúde (ULS), os processos são menos complexos?
Sim, noto que, no que depende da ULS, é muito mais ágil, nomeadamente no que diz respeito à disponibilidade de equipamentos e à possibilidade de contratação de pessoal – principalmente, prestadores. A contratação de pessoas para o quadro é mais difícil, porque depende da ACSS, que toma decisões que são muito difíceis de compreender. No último concurso, em janeiro, para integrar os recém-especialistas de outubro de 2024, a nossa ULS tinha pedido 14 vagas – pelo menos, três médicos queriam mesmo ficar – e a ACSS apenas abriu uma vaga. Dois dos médicos estão a ponderar sair do SNS. É muito complicado e a própria ULS não consegue fazer muito, porque é completamente dependente das estruturas governativas. A totalidade dos coordenadores de USF – sou novamente coordenadora da USF Inovar, que se seguiu à VVS Seixal -, gostava e identificava-se com o anterior Conselho de Administração da ULS Almada-Seixal (ULSAS), mas nem por isso deixou de ser demitido. A ULS é um modelo útil e ágil, mas poderia sê-lo ainda mais se não fosse dependente desta forma de estruturas superiores.
E na vossa ULS conseguiram, de facto, que houvesse maior articulação entre cuidados primários e hospitalares? Decorreu apenas um ano e pouco, mas já se notam diferenças?
Está a fazer-se muita coisa. Tínhamos um diretor clínico para os cuidados de saúde primários, o Dr. Pedro Pacheco, que era muito ativo, com um pensamento muito ‘fora da caixa’, muito trabalhador. Mas há todo um mundo de procedimentos a montar. Contudo, estamos a avançar. Toda a urgência da ULS é referenciada pela Linha SNS24, inclusive a consulta de doença aguda nos CSP. Isto é um avanço enormíssimo, que jamais se havia conseguido. Está a tentar-se, por exemplo, o contacto direto entre os responsáveis das várias equipas de CSP e hospitalares. É o projeto CONECTA-T, que também está a começar. Há outros, como no âmbito da abordagem (diagnóstico e tratamento) da síndrome do canal cárpico. São projetos que envolvem os dois níveis de cuidados, de diferentes especialidades. Há ainda um grande caminho a percorrer, mas já se começa a notar alguma mudança.
“Existiram, de facto, receios, mas sempre quis deixar bem claro que a VVS era um projeto temporário para responder a uma emergência nacional”
Foi mentora das VVS. Quais as mais-valias deste projeto?
A via verde saúde era apenas uma resposta temporária e de emergência, não substituía as USF. Este modelo permitia disponibilizar cuidados de suficiente qualidade e dignidade a quem, no melhor dos cenários, ainda teria de esperar três a cinco anos para ter uma equipa de saúde familiar. Não fazia sentido dizer-lhes, como temos feito nos últimos anos, que têm que esperar por um médico. E o que acontece nesse período se precisarem – e vão precisar – de cuidados de saúde?
Existiram, de facto, receios, mas sempre quis deixar bem claro que a VVS era um projeto temporário para responder a uma emergência nacional. Tal como aconteceu durante a pandemia, quando foram criadas algumas estruturas, como os ADR, as enfermarias de retaguarda, ou os centros de vacinação. Não defendemos CSP organizados segundo este modelo, sobretudo porque não existe uma continuidade de cuidados. Quem estava na VVS defendia as USF, as equipas de saúde familiar! As de modelo B são, na minha opinião e na dos meus colegas, as que dão melhores condições…
A situação dos nossos utentes era muito pior antes da VVS! Eram tratados em UCSP, onde os profissionais – que são escassos para as necessidades – tinham de dar resposta a eles e às suas listas. E tudo isto sem grandes condições de trabalho, porque os recursos humanos e materiais são escassos. Ou então eram vistos por médicos contratados por empresas que nem sequer tinham especialidade…Os enfermeiros também estavam muito sobrecarregados.
Acrescia ainda o facto desta população ser, na maioria das vezes, imigrante. Muitos mal falavam o Português – ou nem sequer isso – e podiam inclusive estar em situação irregular, sem documentos, sem um número de utente. Nestes casos estava, infelizmente, em vigor a chamada «lei dos cuidados inversos», que afirma que aqueles que mais necessitam de cuidados de saúde são os que menos cuidados recebem, e vice-versa. Pertenciam ainda a este grupo muito vulnerável aqueles que se deslocam dentro do país ou quem ficou sem médico de família por este se ter reformado. Não podem ficar sem resposta, porque a saúde é um direito de qualquer ser humano.
Por que razão não se aceitou tanto este projeto?
A VVS Seixal começou também a sofrer a pressão do aumento de utentes sem médico de família e da falta de recursos humanos por incapacidade de se reter os profissionais da equipa fixa, uma vez que os ordenados que auferiam eram cerca de metade do que receberiam numa USF B. A pressão chegou a ser visível com o surgimento de filas de utentes à porta da unidade para arranjarem consulta. Estes especialistas estavam a ser pagos como generalistas. Não era justo que trabalhassem de forma diferenciada e especializada e que não fossem remunerados como tal.
“Na minha vida tenho tido o privilégio de lidar com todo este tipo de vulnerabilidades. A que conclusão chego: somos todos iguais, todos parecidos”
Na sua atividade tem lidado muito com populações mais vulneráveis. O que mais se aprende nestes casos?
Há vários tipos de populações vulneráveis: idosos, dependentes, pessoas em isolamento social e solidão, sem-abrigo, estrangeiros (nomeadamente de países muito diferentes), com doença mental, com dependência química ou de álcool, em situação de pobreza… Na minha vida tenho tido o privilégio de lidar com todo este tipo de vulnerabilidades. A que conclusão chego: somos todos iguais, todos parecidos. Os imigrantes paquistaneses, muçulmanos, as mulheres que vêm à consulta com hijab ou niqab e sempre acompanhadas pelo marido, preocupam-se e cuidam dos filhos, como os portugueses, não muçulmanos. Se eles estão doentes, ficam aflitas, como nós. As pessoas mais pobres, que vivem com muitas dificuldades, também gostam de se ver bonitas e preocupam-se se têm pouco cabelo, se os dentes estão deteriorados…
Todas as pessoas dizem que o que mais as entristece é o sofrimento dos seus mais diretos (maridos, esposas, filhos)… Somos todos humanos! Tem sido um privilégio, ao longo da minha carreira profissional, ser-me concedida a confiança de entrar na intimidade mais profunda de pessoas tão diferentes. Às vezes, quase sinto necessidade de agradecer a confiança.
O Governo aprovou um projeto-lei que impede o acesso de imigrantes ilegais a cuidados de saúde que não sejam urgentes, por causa de supostos abusos de turismo de saúde. Concorda? Quais as consequências desta medida?
Na VVS Seixal percebi que existe, efetivamente, turismo de saúde, no sentido de que pessoas de classe média ou média alta de países em vias de desenvolvimento usam, às vezes, os serviços do SNS para terem uma gravidez e um parto em segurança. Mas, apesar de estas situações nos chocarem, não são de modo nenhum as mais prevalentes.
Compreendo, por um lado, esta atitude, porque pode ser mesmo muito perigoso ter um parto em determinadas zonas do mundo. Se calhar, se eu estivesse no seu lugar, faria também tudo para comprar um bilhete de avião para Portugal. Mas, do ponto de vista do sistema, não podemos deixar que isto aconteça.
Outra questão diferente é a das pessoas que se encontram em situação irregular, sem número de SNS, mas que já trabalham em Portugal, descontando para a Segurança Social. Estão irregulares, não por sua responsabilidade, mas por causa da lentidão da AIMA – Agência para a Integração, Migrações e Asilo – que, provavelmente, também não tem os recursos necessários para processos morosos. Estas pessoas têm o direito de ser acompanhadas no SNS, porque vivem aqui, trabalham e descontam. O sistema de prevenir ou evitar o turismo de saúde devia ser direcionado a esse problema e não generalizar a todos os que estão em situação irregular. É extremamente injusto para todos os que não estão em turismo de saúde.
Ao longo dos anos houve um foco muito grande nas USF. Concorda com a sua generalização para modelo B, mesmo quando há unidades que ainda não têm a maturidade e o desenvolvimento necessário para tal?
A diferença entre o que se recebia em USF modelo B e nas outras unidades, iria esvaziar estas últimas. As pessoas, em particular os médicos, não estariam predispostos a trabalhar nas unidades onde se ganha mais ou menos de metade em comparação com as USF modelo B. Foi bem pensado generalizar o modelo, para se poder pagar melhor aos profissionais, de modo que também se possam fixar no SNS.
Todavia, tenho pena que outras unidades dos ACeS e das ULS não tenham sido melhor remuneradas para fixar os profissionais. É o caso das unidades de cuidados na comunidade (UCC), as unidades de cuidados continuados e integrados e as equipas de suporte em Cuidados Paliativos. Essas pessoas fazem um trabalho muito diferenciado e ganham metade do salário dos outros. Eles são facilmente recrutáveis para USF modelo B.
“A pessoa que trabalha a tempo parcial faz mais de metade do que quem está a tempo inteiro, porque está mais fresco, porque vê outras coisas”
Na sua opinião, o que mais afasta os jovens do SNS? Os mais novos defendem maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional, mas há quem diga que tal não é possível em Saúde. Qual a sua opinião?
No caso concreto dos CSP, os jovens médicos de família valorizam ser bem pagos, ter flexibilidade horária – trabalhando a tempo parcial, inclusive – assim como condições para trabalharem bem e evoluírem do ponto de vista técnico. E, claro, ter boas equipas. Nós conseguimos boas equipas e, na maioria dos casos, também condições para se trabalhar bem, mas é muito difícil a tal flexibilidade e o trabalho a tempo parcial. A legislação não prevê essa possibilidade. Também querem ser melhor pagos e, nesse aspeto, foi muito bem pensado este pagamento por desempenho do modelo USF-B. E porquê? Porque a nova geração trabalha muito bem, de forma muito focada e orientada para os resultados. Se for remunerada desta forma, trabalhará ainda melhor.
Relativamente ao trabalho a tempo parcial, a legislação das USF permite que, até um terço dos elementos de cada grupo profissional trabalhe a meio-tempo. Mas por que tem de ser um terço? Na USF Inovar, que vai ter no final dez listas médicas completas, estamos a pensar ter 12 médicos – quatro a tempo parcial. Já temos, neste momento, os médicos a meio-tempo e facilmente teríamos mais nestas condições. Mas, por causa da lei das USF, não o conseguimos. Mas, porquê? Eu própria tenho a experiência de quando trabalhei deste modo numa USF – porque o restante era dedicado à Direção de Internato. Nessa altura, era mais rentável na USF! A pessoa que trabalha a tempo parcial faz mais de metade do que quem está a tempo inteiro, porque está mais fresco, porque vê outras coisas, não está tão absorvido e cansado com a rotina do dia a dia.
Dedicou o Prémio ao SNS. Acredita que o SNS tem futuro? E esse deverá incluir cada vez mais parcerias com o privado e o social?
Tenho muita dificuldade em responder … Acho que a resposta tem de ser técnica, tem de ser dada pelos economistas da saúde. Acredito com muita convicção que o nosso país tem de continuar a ter uma saúde de boa qualidade e acessível à totalidade dos residentes. O SNS é, por um lado, financiador, por outro, é prestador. Este último tem muitas vantagens, mas precisa de aumentar a sua eficiência. Formas de organização e de remuneração como as do modelo USF permitem-no.
Aspiro a que o SNS financiador continue a financiar uma saúde de boa qualidade, racional e acessível – o que não quer dizer gratuita – à população total de residentes em Portugal e desejo que o SNS prestador seja cada vez mais eficiente para cumprir a sua missão. Se isso acontecesse, seria mais vantajoso que o setor privado, que tem sempre o objetivo do lucro para os investidores, enquanto o SNS prestador, teoricamente, não. Todo o lucro vai para o sistema. Toda a minha vida trabalhei, em exclusividade, no SNS prestador, como funcionária pública, dedicando-me a este sonho de levar a saúde a todos. Desejo muito que o SNS evolua, mantendo uma visão de justiça e de equidade.
Que palavras gostaria de deixar aos colegas que estão a enfrentar momentos mais desmotivantes por causa da atual situação do SNS?
Penso que temos que encontrar motivação também dentro de nós próprios e dentro daquilo que fazemos todos os dias. Se não estivermos exaustos e desanimados, o que fazemos em cada dia é uma beleza: o contacto com as pessoas, a possibilidade de melhorar as suas vidas, o privilégio de fazer parte das suas vidas. Independentemente de se continuar a luta por boas condições de trabalho, melhor organização e remuneração, simultaneamente temos que aprender a desfrutar daquilo que já temos. E aconselho, a quem ainda não o fez, a ouvir o audiolivro “Médicos de Família Felizes… Porque não?” e que está disponível na página da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF). Têm aí o que penso que é a maneira de sermos felizes na nossa profissão e na nossa vida, apesar das contrariedades.
Maria João Garcia
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