Dados publicados em antecipação do Dia de Consciencialização da Violência contra a Pessoa Idosa revelam que cerca de 1671 pessoas idosas pediram ajuda à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) em 2023, o que resulta numa média de mais de quatro pedidos de auxílio por dia. Comparando com os dados de 2022, em 2023 observou-se um aumento de 9,4% do número de pessoas idosas apoiadas pela APAV, o que se reflete em mais de 140 pedidos de ajuda face ao ano anterior.
Além de crescer face a 2022, a evolução dos dados revela um aumento significativo e constante nos últimos anos, sobretudo a partir de 2019, com mais de mil pedidos de ajuda a entrar na APAV todos os anos desde então. “Os sinais que as vítimas de violência apresentam são de várias ordens e podem estar relacionadas, por exemplo, com o seu comportamento, se demonstram medo na presença de uma determinada pessoa, ou com sinais físicos de violência e/ou negligência, nomeadamente indícios de desidratação, isolamento e abandono”, explica Marta Carmo, gestora do projeto Portugal Mais Velho, ao SAPO.
Segundo os dados disponibilizados pela APAV, as mulheres continuam a ser as que mais sofrem abusos, correspondendo a mais de 76% dos casos (1283 denúncias). Do sexo masculino, foram registados 375 pedidos de ajuda (22,4%), um aumento de 5,34% face aos valores registados em 2022 (356 casos). Quanto à tipificação de crimes, os mais frequentes incluem ameaça, coação e burla, no entanto, a violência doméstica é o delito mais comum por entre as queixas registadas. E pior: relativamente à relação da vítima com o agressor, a APAV revela que a maioria dos crimes é praticada pelos filhos e/ou cônjuge da vítima.
Um relatório da Organização Mundial da Saúde, OMS, publicado na revista especializada Lancet Global Health, alerta que um em cada seis idosos é vítima de algum tipo de violência, o que se traduz em mais de 140 milhões de vítimas em todo o mundo. O mesmo estudo indica ainda que “se a proporção de vítimas idosas permanecer constante, o número aumentará rapidamente devido ao envelhecimento da população, aumentando para 330 milhões de vítimas até 2050”. As conclusões do estudo reforçam ainda “a necessidade de uma ação global para expandir os esforços de prevenção e apoio às vítimas de abuso”, que passam por o setor da saúde assumir um “papel importante na prevenção, sensibilização e fornecimento de orientação baseada em evidências para os profissionais de saúde responderem ao abuso de idosos”.
O que fazer para mudar esta tendência? Marta Carmo acredita ser necessário colocar este tema na agenda de discussão pública e política, “continuando a investir-se em serviços de apoio acessíveis a pessoas idosas, garantir uma resposta mais ágil do sistema de justiça e do sistema de apoio social às necessidades das pessoas idosas e procurar soluções que permitam que as vítimas isoladas tenham um apoio mais imediato”.
Com o intuito de sinalizar o Dia da Consciencialização da Violência contra a Pessoa Idosa, celebrado a 15 de junho, a APAV lança hoje uma nova campanha de sensibilização em que destaca a presença insidiosa da violência contra pessoas idosas em diferentes contextos e formas, incluindo abusos financeiros, negligência, abandono e violações dos direitos básicos, como autonomia, privacidade, liberdade e autodeterminação.