
A China aprovou o primeiro regulamento nacional para refeições escolares, visando reforçar a segurança alimentar, após a intoxicação por chumbo de mais de 200 crianças numa creche no oeste do país, anunciaram as autoridades.
O novo regulamento, emitido pela Administração Estatal para a Regulação do Mercado e que entrará em vigor a 01 de dezembro, estabelece exigências para as empresas responsáveis pela preparação e distribuição de alimentos em escolas primárias, secundárias e jardins-de-infância em todo o país, informou a televisão estatal CCTV.
As regras preveem a designação de um responsável principal pela segurança alimentar em cada centro, pessoal exclusivamente dedicado à gestão e supervisão desta área, e a criação de um mecanismo dinâmico de controlo de riscos, que inclua revisões diárias de segurança, identificação de perigos semanal e reuniões mensais de análise.
Relativamente à aquisição de matérias-primas, o texto determina que produtos como arroz, farinha e óleo de cozinha devem ser comprados de forma centralizada e em pontos específicos. Todos os ingredientes principais terão ainda de ser submetidos, pelo menos uma vez por ano, a análises completas, incluindo testes à presença de resíduos de pesticidas.
A preparação dos alimentos deverá permitir o acompanhamento, em tempo real, por parte das escolas, pais e alunos, das principais etapas do processo, através de tecnologia adequada. Amostras de cada refeição diária deverão ser conservadas durante um mínimo de 48 horas.
A publicação do novo padrão ocorre num contexto de crescente preocupação pública com a alimentação nos estabelecimentos escolares.
Mais de 200 crianças intoxicadas por chumbo em creche
No início deste mês, oito pessoas foram detidas no âmbito de uma investigação à intoxicação por chumbo que afetou 233 crianças numa creche privada na cidade de Tianshui, no oeste da China.
Os responsáveis do estabelecimento terão autorizado o uso de substâncias impróprias para consumo humano na confeção das refeições servidas às crianças.
Segundo as autoridades, a cozinha da creche utilizou corantes comprados online que continham chumbo e estavam rotulados com avisos de que não deviam ser ingeridos.
Das 251 crianças inscritas no centro, 233 apresentaram níveis anormais de chumbo no sangue e 201 foram hospitalizadas após sintomas como náuseas, diarreia, dores nas pernas ou cólicas abdominais, segundo relatos de pais citados pela imprensa local.
Autoridades encobriram o caso
Um relatório divulgado no domingo revela que as autoridades e alguns profissionais de saúde tentaram encobrir o caso ao manipularem os resultados dos exames de sangue que foram feitos às crianças.
O responsável pelos testes "violou gravemente os procedimentos operacionais, o que distorceu os resultados", indica o relatório da investigação.
Segundo a BBC, as autoridades da cidade de Tianshui também aceitaram subornos para interferirem nas inspeções de segurança alimentar em várias creches.
A creche terá usado o corante para "melhorar a aparência" da comida e assim conseguir mais inscrições.
A segurança alimentar tem sido um tema sensível na China desde há décadas, após vários escândalos que abalaram a confiança da população nos sistemas de controlo de qualidade.
Um dos casos mais graves ocorreu em 2008, com a contaminação de leite com melamina, que provocou a morte de pelo menos seis bebés e afetou cerca de 300 mil crianças.
Com Lusa