
“A dor acaba por ser quase uma definição de endometriose: é o seu principal sintoma e está presente em diversos aspetos da vida da mulher, não só física, como também psicológica”, explica Susana Fonseca, presidente da MulherEndo.
Sob o mote “A Minha Dor Não Me Define”, a campanha visa promover a sensibilização para o impacto que a endometriose tem na vida e no bem-estar das mulheres. “Há muitos tipos de dor e há muitas designações de endometriose, como sendo a dor dos 4D, dos 5D e cada vez vamos descobrindo mais dores”, explica Irina Ramilo, ginecologista e membro da Sociedade Portuguesa de Ginecologia.
“Temos muitos locais de dor associada à endometriose: temos a dismenorreia; a dispareunia; a disquesia; a disúria … Logo, quando falamos de endometriose, a dor é o principal sintoma e o motivo que leva a mulher a uma consulta na suspeição de patologia.” “Um dos mitos mais enraizados na nossa sociedade é que ter dor menstrual é normal. Isso é passado de geração em geração: a avó tinha, a mãe tinha, logo dizem-nos que isso é normal e não se procura uma causa para essa sintomatologia, quando é incapacitante”, refere Susana Fonseca.
Uma normalização que acaba por contribuir para que, durante anos, as mulheres sofram em silêncio, sem um diagnóstico. Mas há outros problemas que as mulheres, mesmo depois de diagnosticadas com endometriose, continuam a ter de enfrentar. “Embora existam excelentes equipas, em Portugal, falta um acompanhamento digno e adequado em hospitais no Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, alerta. “A endometriose é uma doença crónica, incapacitante, mas, com um protocolo adequado, pode ser contornada e podemos devolver qualidade de vida às doentes. Para isso, é preciso uma equipa multidisciplinar, um acompanhamento muito apertado e individualizado”, acrescenta.
De acordo com a presidente da MulherEndo, aquilo que se oferece, atualmente, é o que se chama de “penso rápido”. “Em muitos locais não se fazem exames complementares adequados para perceber onde é que está a doença, não se oferece a multidisciplinaridade no tratamento, que deve incluir Nutrição, Psicologia, Fisioterapia do pavimento pélvico e outras valências muito importantes no controlo da sintomatologia”.
Segundo a responsável, o mais comum é prescrever-se fármacos, mas é preciso um tratamento mais holístico. “Porque se nós conseguirmos oferecer isso às doentes, elas vão, efetivamente, recuperar muita da sua qualidade de vida e, consequentemente, cumprir as suas ambições em termos sociais, reprodutivos, de mercado de trabalho, etc.”. A ginecologista Irina Ramilo justifica esta aposta na farmacologia por não se tratar de “uma doença linear e por a sintomatologia ser sobreponível à de outras doenças e de nem sempre todos os aspetos da sintomatologia estarem presentes”. Inevitavelmente, “se fizermos o diagnóstico mais tarde isso pode significar, para a mulher, mais repercussão da doença, ou seja, mais aderências, mais dor associada, mais fibrose, mais dificuldade em engravidar”, acrescenta a ginecologista.
A campanha inclui a talk “A Minha Dor Não Me Define”, um evento que vai decorrer no SelfCare Market & Summit, a 29 de março, na Cordoaria Nacional, em Lisboa, entre as 12h e as 13h30, no Palco A. Será moderado pela sexóloga Tânia Graça e contará com a presença da ginecologista Irina Ramilo e de Sara Tarita, enquanto testemunho de uma mulher que vive com endometriose. Vai ainda marcar presença na Endomarcha, também no dia 29 de março, no Parque das Nações, através da distribuição de lenços a todos os participantes. A iniciativa é da Sociedade Portuguesa de Ginecologia e da MulherEndo, contando com o apoio da Gedeon Richter.
MJG
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