Aeroportos vazios, aviões em terra, fronteiras encerradas, viagens canceladas, hotéis sem hóspedes, cidades desertas. Medo de sair de casa, quanto mais do país. Imagens que saltam à mente quando tentamos pintar um retrato de 2020 no que toca às viagens e ao turismo.
Olhando doze meses para trás, já é difícil lembrar de como estavam a ser feitas as viagens pré-COVID-19.
Mas o cenário era, exatamente, o contrário. Aeroportos cheios, espaço aéreo repleto, setor da aviação em crescimento, principalmente nas companhias low cost. Grandes capitais europeias lotadas, alojamento local selvagem, investimento em unidades hoteleiras de topo. Destinos exóticos cada vez mais desejados, principalmente, através das fotografias partilhadas nas redes sociais. O mundo era, cada vez mais, de todos os viajantes que a ele se fizessem e o setor do turismo era o motor de muitas economias.
Até que a pandemia se tornou um problema global e o setor foi atingido por um verdadeiro tsunami. De repente, o planeta Terra parecia um lugar estranho e distâncias que antes eram facilmente percorridas a bordo de um avião ficaram bem mais longas. As viagens passaram de algo rotineiro a uma atividade de risco. Viajar era, por si só, uma forma de espalhar o vírus que mundo começava a compreender e a lutar para conter.
Foi aterrador e belo ver as grandes capitais europeias sem turistas. Algumas cidades conseguiram “respirar” depois de anos de excessos causados pelo turismo de massa. Em março, as imagens dos canais de Veneza "limpos" correram mundo, enquanto Itália se afirmava como um dos países europeus mais afetados pela primeira vaga do novo coronavírus.
Uma das medidas mais impensáveis aconteceu: fronteiras encerradas. Em abril, 93% da população mundial tinha restrições de viagem por causa da COVID-19.
Nos quatro cantos do globo, o confinamento foi sendo realidade e a imaginação, tingida pelas cores do arco-íris, ajudou a construir um mundo confinado mais alegre. No SAPO Viagens, encontramos alento nas janelas dos nossos utilizadores. Quem faz das viagens vida teve de deixar tudo em suspenso e voltar para casa.
Ao mesmo tempo, o espaço aéreo esvaziava-se e as companhias mergulhavam na pior crise do setor desde sempre, com efeitos bem mais profundos do que aqueles registados aquando dos atentados de 11 de setembro de 2001.
Até que chegou o verão e, com ele, um novo alento para as viagens. Em junho, a reabertura de fronteiras na Europa causou alguma polémica e as imposições de quarentenas e restrições não estimularam as viagens externas.
A criação de corredores aéreos entre alguns países foi uma opção para tentar retomar as viagens, enquanto se procuravam soluções originais para minimizar o risco de viajar de avião, como este projeto de assentos. Ao mesmo tempo, em diferentes cidades, cafés, restaurantes, parques, atrações turísticas e hotéis readaptavam-se para garantir o distanciamento social e cumprir as novas regras de higiene e saúde.
A Islândia, um dos primeiros países a reabrir ao turismo, oferecia um teste de COVID-19 para quem viajasse para lá. O problema era conseguir lá chegar com tantas restrições ainda em vigor.
O turismo interno acabou por ser um bálsamo para a crise que já assolava fortemente o setor.
Olhando para o nosso retângulo à beira mar plantado, em 2020, Portugal foi o destino possível para a maioria das pessoas. Muitas aproveitaram para redescobrir o país, que ainda envergava o título de Melhor Destino do Mundo pelos World Travel Awards, apoiando, desta forma, o turismo nacional.
Houve espaço para tudo: das caminhadas às roadtrips, do glamping às voltas de bicicleta, da Estrada Nacional 2 à Costa Vicentina, sem esquecer Açores e Madeira que estão entre os destinos mais pesquisados do ano no SAPO Viagens. Roteiros para explorar Portugal não faltaram.
Infelizmente, este período durou pouco tempo e a segunda vaga da COVID-19 voltou a agudizar a crise e a deixar bem visíveis os efeitos da pandemia numa das áreas mais rigorosamente por ela afetada. Só em Portugal, 45% dos hotéis estão encerrados e muitos ainda não sabem quando voltam a abrir portas.
Os números não mentem. As contas das Nações Unidas dizem que a indústria do Turismo vai perder um trilhão de dólares devido à pandemia. 320 mil milhões de dólares já foram perdidos nos primeiros meses de 2020. Estima-se que 100 milhões de postos de trabalho ligados ao setor estejam em risco.
A OCDE indica que a atividade turística desceu 80% em 2020 e traça alguns objetivos para a recuperação do setor: restaurar a confiança nas viagens, apoiar os negócios, promover o turismo interno, fortalecer a cooperação entre os países e construir um turismo mais sustentável. Resta saber quais destas metas serão concretizadas quando, de facto, a retoma for iniciada. Quando será? É uma pergunta cuja resposta iremos procurar em 2021.