Nas últimas décadas, assistimos a uma transformação tecnológica sem precedentes. Uma das áreas onde esta mudança tem sido mais profunda — embora menos visível a olho nu — é a dos serviços financeiros. As fintechs, empresas que combinam tecnologia com inovação financeira, estão a reformular a forma como consumidores e pequenas empresas lidam com o dinheiro, o crédito, a poupança e o investimento.

Para os consumidores e famílias, as vantagens são claras: acesso a soluções mais rápidas, intuitivas e, muitas vezes, mais económicas. Ferramentas de investimento digital, como os robo-advisors, permitem investir pequenas quantias de forma diversificada, com custos reduzidos e sem exigir conhecimentos técnicos avançados. Plataformas de pagamento instantâneo, como o novo SPIN ou o amplamente adotado MB WAY, tornam as transações mais simples, imediatas e integradas no quotidiano digital dos portugueses.

Além disso, o acesso ao crédito tornou-se significativamente mais ágil. Fintechs especializadas em análise de risco recorrem a algoritmos avançados e dados alternativos para avaliar o perfil de cada cliente, permitindo decisões mais rápidas e inclusivas. Paralelamente, a democratização do investimento tem ganho força, com instrumentos como o crowdfunding ou as Initial Coin Offerings (ICO) a abrirem novas portas de participação no financiamento de projetos inovadores.

Para as PME, o impacto pode ser ainda mais transformador. As fintechs oferecem soluções integradas de contabilidade, faturação, pagamentos e gestão de tesouraria. Estas ferramentas ajudam as empresas a ganhar tempo, visibilidade e controlo sobre as suas finanças.

O Portugal Fintech Report 2024 mostra um ecossistema em expansão, com soluções relevantes e colaboração entre startups, grandes instituições e reguladores. Esta dinâmica de inovação partilhada é essencial para um ambiente seguro e competitivo.

Lisboa mantém-se na linha da frente, mas os distritos de Castelo Branco, Coimbra e Leiria ganham expressão no ecossistema fintech, impulsionados pelo dinamismo das universidades e incubadoras locais, promovendo uma inovação financeira mais descentralizada e enraizada no território.

Esta evolução está a criar um novo paradigma de interação com os serviços financeiros: o paradigma phygital. Phygital, a combinação de "physical" e "digital", representa a integração entre canais tradicionais e digitais, permitindo uma experiência contínua e centrada no utilizador — seja num smartphone, num terminal de pagamento ou num balcão digital.

Naturalmente, os desafios não desaparecem. A cibersegurança, a literacia digital e a proteção de dados são áreas críticas para consumidores e empresas. Como sublinha a ESMA, é essencial garantir que os utilizadores compreendem os produtos que utilizam e que estão protegidos contra riscos excessivos — especialmente quando falamos de criptoativos e produtos estruturados.

As fintechs têm potencial de tornar o sistema financeiro mais acessível, eficiente e centrado nas pessoas. Num contexto onde o físico e o digital se complementam de forma natural, estas soluções simplificam o acesso a produtos e serviços financeiros e promovem o envolvimento de famílias, consumidores e empresas numa economia phygital mais participativa.

Qual o grande desafio? Encontrar o equilíbrio certo: promover a inovação sem perder a confiança. Para isso, será essencial o papel dos reguladores, da educação financeira e da colaboração entre fintechs, instituições tradicionais e a sociedade civil.

Ana Brochado, presidente da Delegação Regional do Centro Alentejo, Ordem dos Economistas. ISCTE. DINÂMIA’CET