O tecido empresarial português é dominado por micro e pequenas empresas, muitas delas de natureza familiar. Nos Açores, tal como no resto do país e na Madeira, as PME representam 99,9% das entidades empresariais, com uma presença de grandes empresas bastante residual. No entanto, a realidade açoriana distingue-se pelo peso que estas empresas têm no volume de negócios contabilizado: enquanto que, a nível nacional, as PME geraram, em 2023, 58% da faturação total, nos Açores esse rácio supera os 70% (dados INE – Sistema de Contas Integradas das Empresas). Esta maior representatividade reflete, naturalmente, uma estrutura empresarial mais fragmentada, influenciada pela geografia do arquipélago, pelas limitações logísticas e pela dimensão reduzida do mercado interno.
Neste cenário, as PME não são apenas o motor da economia açoriana — são a sua espinha dorsal. Com presença em todos os 19 concelhos e um papel central nas atividades económicas de base, estas empresas têm sido fundamentais para a coesão territorial, a criação de emprego e a vitalidade das comunidades locais.
No entanto, ainda em 2023, embora as PME açorianas representassem 2,1% do total nacional (cerca de 31.400 entidades), contribuíam com apenas 1,6% para o Valor Acrescentado Bruto (VAB) nacional, refletindo uma produtividade média inferior, ainda que em crescimento. Dados estes que devem ser vistos no contexto de um arquipélago, necessariamente, ainda bastante dependente da intervenção pública – algo que muitas vezes só é devidamente compreendido por quem está bem ciente do que é a vivência numa região ultraperiférica cuja geografia dita, simultaneamente, necessidades de serviços e produtos básicos multiplicadas por nove e dimensões de mercados divididas pelo mesmo número.
Mas é também neste contexto que, de acordo com dados do PORDATA, o turismo, juntamente com o comércio, destaca-se como um dos principais motores da economia regional, impulsionado por pequenas unidades de alojamento e experiências locais. Em 2024, em conjunto, foram responsáveis por 32% do VAB regional, superando os 25% registados a nível nacional. A agricultura é outro pilar essencial, com um peso três vezes superior ao da média nacional (7% vs. 2%), valorizando produtos locais como os laticínios, o vinho e a pesca. Por outro lado, a indústria representa apenas 12% do VAB regional, face aos 22% nacionais, evidenciando uma oportunidade clara para aumentar o valor acrescentado através da transformação local.
No entanto, apesar da sua resiliência, as PME açorianas enfrentam desafios estruturais significativos. A insularidade impõe custos de transporte elevados e limita a escala, o que afeta a competitividade. Os preços da energia continuam acima da média nacional, penalizando os custos operacionais. A dimensão média das empresas e a necessidade de maior profissionalização da gestão também trazem limitações à capacidade de inovação e de internacionalização. Adicionalmente, a menor capitalização, a lentidão na modernização de processos e a escassez de mão-de-obra têm-se constituído como obstáculos persistentes.
Ainda assim, as oportunidades são evidentes. O posicionamento da região enquanto destino turismo sustentável, centrado no património natural e em experiências locais autênticas, representa um nicho em franco crescimento onde as PME açorianas têm vindo a destacar-se. A valorização dos produtos endógenos em mercados com potencial de exportação é outro caminho promissor. A melhoria de processos e a adoção de tecnologias verdes, com o investimento em energias renováveis, podem reforçar a competitividade regional. Os apoios públicos disponíveis — como o PO Açores 2030, o PRR e os programas Capital Participativo Açores I e II, estes últimos direcionados especificamente para a capitalização das empresas — são instrumentos fundamentais para modernizar o tecido empresarial. E apesar de algumas oportunidades perdidas, a criação de clusters que integrem turismo, agroalimentar e economia azul pode gerar sinergias e abrir novas perspetivas de crescimento e internacionalização.
Não há dúvidas de que as PME açorianas são — e continuarão a ser — essenciais para o desenvolvimento económico, social e demográfico da região. Apesar dos constrangimentos, têm demonstrado uma notável capacidade de adaptação. O futuro da economia açoriana dependerá da sua aptidão para inovar, exportar e valorizar os seus ativos naturais e culturais. Investir nas PME é investir num futuro regional mais sustentável e sustentado, preparado para os desafios de um mundo em constante transformação.
O “Quadrado Perfeito” não é só uma análise técnica, feita por quatro economistas de diferentes regiões do país, que se revezam semanalmente, à quarta-feira. É uma narrativa que revela nuances regionais tantas vezes ignoradas para uma compreensão integral da economia.