Vivemos rodeados de promessas de inovação. De slogans reluzentes que garantem o futuro, de discursos que repetem a urgência de inovar como quem repete um mantra. Mas quanto mais a palavra se repete, mais se esvazia. Inovar virou moda, mas esqueceu-se da alma.

Na minha apresentação, feita há umas semanas, sobre emovation — a fusão entre emoção e inovação — deixei uma pergunta no ar: “O que é, afinal, a inovação?” Não esperava uma resposta rápida. Quis provocar silêncio. Porque é no silêncio que moram as perguntas que realmente importam.

Inovar não é melhorar o que já existe. É ter coragem de desaprender. É romper com o que se tornou confortável, mesmo que funcione. É dizer “não” ao que já sabemos fazer bem, para abrir espaço ao que ainda não conseguimos sequer imaginar. A inovação não começa numa reunião criativa, nem num laboratório. Começa num lugar bem mais íntimo: na inquietação de quem já não se reconhece no que faz.

É fácil falar de inovação quando há recursos, apoios e palcos. Mas a verdadeira inovação acontece no escuro. Nas madrugadas em branco. Nos momentos em que tudo parece desabar. Porque é ali que emerge o impulso mais poderoso do ser humano: o de criar sentido onde só havia vazio.

Foi esse impulso que me levou a criar o conceito de emovation. Porque percebi que estávamos a pensar a inovação com a cabeça, mas a esquecê-la no coração. E sem emoção, não há movimento. Sem emoção, a mudança é mecânica, e a criatividade é apenas uma técnica de brainstorming com frases bonitas em post-its.

A verdadeira inovação é profundamente emocional. Nasce do desconforto. Da revolta. Da paixão. Da ausência. Do amor. Do medo. Da urgência de transformar o mundo interior antes de mexer no mundo exterior. Não é sobre tecnologia, é sobre humanidade.

E, no entanto, o que vemos são empresas que dizem querer inovar, mas rejeitam tudo o que é imprevisível. Líderes que pedem criatividade, mas punem a diferença. Pessoas que têm ideias maravilhosas, mas engolem-nas por medo do riso, da crítica ou da exclusão.

A criatividade não é um luxo, é uma necessidade vital. Não é algo que se ativa num workshop, é algo que se resgata da infância, do instinto, da dor e da esperança. É o que nos torna vivos. E ainda assim, quantos de nós vivem hoje em piloto automático, repetindo processos, palavras, dias…?

Neste Dia Mundial da Criatividade e Inovação, não te convido a pensar fora da caixa. Convido-te a rasgar a caixa. Ou melhor: a perceber que a caixa és tu. As tuas crenças. Os teus medos. Os teus limites herdados. E só quando questionas a tua própria estrutura é que algo verdadeiramente novo pode nascer.

Por isso, hoje, não te pergunto o que a tua empresa está a criar. Pergunto-te:

  • O que em ti precisa de morrer para que algo novo possa nascer?
  • Que parte tua está a gritar por reinvenção?
  • Que talento está adormecido?
  • Que emoção tens escondido por não encaixar no “profissionalismo”?

A inovação começa nesse exato ponto: onde sentes, onde tremes, onde te recusas a aceitar que a vida seja só isto.

E talvez, só talvez, se tiveres coragem de escutar essa emoção… descubras que a inovação de que o mundo precisa começa por ti.

José Borralho, CEO do Produto do Ano