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Impactos do turismo de massas na sustentabilidade. Alternativa: o caso da Quinta do Lago

A sustentabilidade no Turismo a todos os níveis apontados é um fator crítico de sucesso no futuro, em que a própria sazonalidade é o seu maior inimigo.

Em Portugal, o Turismo é uma das principais atividades económicas, no qual o setor do Alojamento, no ano de 2024, totalizou 80,3 milhões de dormidas, antecipando o objetivo definido na Estratégia Turismo 2027. A Região do Algarve sobressai, com 25% das dormidas a nível nacional. Estes números são catalisadores para a criação massiva de emprego, no qual o setor de Alojamento e da Restauração empregou 318 mil pessoas, representando 6,2% do total da economia portuguesa. O nível salarial tem sido baixo, no entanto, desde 2022, os aumentos salariais nesses setores têm sido maiores do que na economia em geral, reduzindo progressivamente a diferença salarial (crescimento de 7% de 2023 a 2024 em contraste com os 4,8% em toda a economia). O tipo de Turismo que potencia estes resultados é, na sua larga maioria, o turismo de massas.

O turismo de massas é caracterizado por um grande número de turistas que visitam o mesmo local ao mesmo tempo, levando a impactos sociais e culturais, económicos e ambientais significativos. Em termos sociais e culturais, a receita do turismo contribui para o crescimento da infraestrutura, como aeroportos, hotéis e meios de transporte, mas pode levar a choques culturais entre turistas e moradores locais, resultando na perda da autenticidade cultural em que “Turistas não são bem-vindos” (Pérez-Gil, M., 2024). Em termos económicos, cria emprego, mas cria uma monocultura económica, em que, por exemplo nas Canárias, gera 40,4% do total de oportunidades de emprego. Em termos de sustentabilidade ambiental, as consequências são profundas (responsável por cerca de 8% das emissões globais de carbono) em que a expansão regional e urbana do turismo de massas muitas vezes gera modelos de urbanização insustentáveis, causando também poluição (por exemplo, transportes), erosão principalmente nas zonas costeiras e perda de recursos naturais.

Pegada de Carbono do Turismo Global
Pegada de Carbono do Turismo Global Pegada de Carbono do Turismo Global créditos: Fonte: Nature Climate Change (2018)

Neste caso, o transporte (principalmente aéreo) é a principal fonte de emissões de gases de efeito estufa no turismo, responsável por metade de todas as emissões relacionadas com as atividades turísticas (com aumento de 3,5% ao ano, segundo o Journal Nature Communications. Além disso, a produção de alimentos, a construção de infraestrutura turística e o uso de energia em alojamentos também contribuem significativamente para a pegada de carbono.

Assim, a sustentabilidade no Turismo a todos os níveis apontados é um fator crítico de sucesso no futuro, em que a própria sazonalidade é o seu maior inimigo. Os objetivos são prolongar a atividade turística ao longo do ano, reduzindo o índice de sazonalidade de 37,5% para 33,5%. Neste sentido, a Quinta do Lago é um excelente exemplo de como o tipo de turismo pode moldar a economia e o ambiente de uma Região.

A Quinta do Lago é conhecida pelos seus resorts de luxo e belas paisagens naturais. Atrai visitantes de todo o mundo, tornando-se um player significativo na indústria do Turismo da Região do Algarve, em Portugal. Mas apresenta algo significativo em termos de sustentabilidade ambiental. Segundo o livro Uma Viagem pela Vida da autoria de André Jordan, “a falta de interesse de potenciais compradores por aquele terreno (Quinta do Lago), tão excecional e paradisíaco, residia na baixa densidade de construções autorizadas”. E foi este o conceito de há 50 anos que persiste até hoje: “Quanto menor a densidade de construção, mais valioso seria o metro quadrado de terreno” em que o espaço livre e natural seria um luxo! Apresentava também vantagens em termos económicos, sociais e culturais: “Os projetos seriam preferencialmente desenvolvidos por funcionários e trabalhadores portugueses.” Mas já na altura e ainda atualmente, a implementação desta decisão revelou-se complicada devido à falta de profissionais especializados nas várias áreas de intervenção. Então foi necessária formação para profissionais e equipas para a construção, manutenção e operação de campos de golfe, organizações de marketing e vendas de projeção internacional, construção e operação de equipamentos hoteleiros e complexos residenciais para o Turismo. Nesta perspetiva, a Quinta do Lago não foi apenas inovadora como um projeto em si. Foi também um laboratório e uma escola para funcionários, onde muitos outros promotores vieram aprender e recrutar excelentes profissionais.

Tal como na Quinta do Lago, este tipo de turismo promove práticas responsáveis, como conservar os recursos naturais, respeitar as culturas locais e contribuir para a economia local. Não se trata de ter muito turismo, trata-se de ter muito turismo de massas. A adoção de abordagens inovadoras, como o Turismo Rural, o Turismo Criativo ou o “Trabalhos em férias” (em áreas rurais ou remotas não saturadas em longos períodos), pode também ajudar a criar um modelo de turismo mais sustentável. É possível equilibrar o crescimento económico e a sustentabilidade ambiental.

Economista dos Algarves

O “Quadrado Perfeito” não é só uma análise técnica, feita por quatro economistas de diferentes regiões do país, que se revezam semanalmente, à quarta-feira. É uma narrativa que revela nuances regionais tantas vezes ignoradas para uma compreensão integral da economia.

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