Não percamos mais tempo. Vou quebrar o silêncio sobre a eventual III Guerra Mundial: estou absolutamente preparado.

Há três semanas que a minha mãe começou a preparar o nosso kit de sobrevivência, de maneiras que o que não me falta são marmitas com bolachas de água e sal, latas de atum posta ao natural e pacotinhos de sumo Fresky. E digo-vos uma coisa: no que depender da minha mãe, eu vou para a guerra de lancheira.

Muita gente me pergunta se não me assusta a perspetiva de ansiedade, nervos, stress, trauma e natural possibilidade de falecer intimamente associada à participação num cenário de guerra. Não. Meus queridos, eu já fiz um estágio de verão na Deloitte e uma vez até vesti um pullover.

Mas também vos digo que se for para a guerra não vou para combater. O que seria… Eu vi o Herói de Hacksaw Ridge e se o Andrew Garfield pôde fazer uma guerra inteira a adesivos e pensos para as bolhas e ainda sacou uma enfermeira, não sou eu que vou pegar numa colher de pau ou lá que armas é que o exército português usa desde que a ex-Almirante Padeira de Aljubarrota estabeleceu a tendência.

Parece que a isso se chama ser objetor de consciência. Que é um termo francamente melhor do que borrado, como os meus colegas patriotas me designam.

Eu acho que o meu serviço militar vai ser prestado na cozinha. Está na hora de alguém revolucionar as cantinas das nossas forças armadas, que eu fiquei absolutamente traumatizado com o puré no meu Dia da Defesa Nacional.

Já agora, lembram-se daquela história de quem faltava ao Dia da Defesa Nacional depois era o primeiro a ser chamado para a guerra? Essa está taco a taco com as laranjas à noite e cortar o cabelo depois de comer. Essa é mais mito que a do D. Sebastião e um dia de nevoeiro. Até porque tenho um amigo que fuma vape e nunca se queixou de nenhum monarca a atrapalhar-lhe um bafo.

Vou então ser cozinheiro do Exército. Mas vai ser à minha maneira. Não há cá jardineira, nem rancho, nem cozido, que isso dá moleza e moleza não dá jeito para a guerra. Um soldado quer-se alimentado e pronto para dar uns tiros, não é a precisar de dar uma volta para esmoer (ou desmoer, se tiverem nascido no campo). Tenho aliás forte convicção de que a conquista do Brasil não terá sido depois do almoço. Aliás, colonizar no geral é muito mais vibe de sunset.

A minha ementa vai ser adaptada aos tempos modernos, mas com ensinamentos que me ficaram da infância. Quando jogava futebol, os meus treinadores não levavam as bolas para o campo no treino antes do jogo, para chegarmos a domingo com fome de bola. Na mesma lógica, na véspera da batalha vai-se comer filetes de pescada com salada mista, que é para no dia a seguir o pelotão ter fome de salada russa. Mas atenção, vou instituir a obrigatoriedade da marmita. Não há nada mais evitável do que perder uma guerra por motivos de larica.

Quando eu mandar, as trincheiras vão ser dispensas com tupperwares e mini geleirinhas. O kit vai ser o mesmo para todos. Como a minha mãe ensinou, pacote de bolachas, lata de atum e um suminho Fresky. Se não lhes apetecer o sumo, não há problema, podem dar aos russos para eles misturarem com a vodka.

Comediante Estagiário