A história europeia é indissociável da história africana. De facto, os laços que nos unem resultam de uma complexa teia de intercâmbio económico, interação social e envolvimento político, que evoluiu através de vários estádios de desenvolvimento. De um legado colonial, passámos, no período pós-Segunda Guerra Mundial, para um modelo de ajuda ao desenvolvimento e, mais recentemente, para um esforço global de desenvolvimento harmonioso, centrado nas questões da sustentabilidade.
Destaca-se, no entanto, a cooperação económica que existe entre estes dois blocos. É preciso reconhecer que África, com a sua abundância de recursos naturais, mão-de-obra jovem e um mercado em crescimento, representa uma região de substancial potencial económico. Por outro lado, a Europa enfrenta desafios demográficos significativos, em grande parte devido ao acelerado envelhecimento da sua população. Esta situação gera uma necessidade premente de alcançar novos mercados, que possam sustentar o crescimento económico europeu. Esta realidade sublinha a importância de reforçar o investimento europeu na infraestrutura, indústria e economia digital do continente africano. De facto, este movimento poderá beneficiar grandemente as nações africanas, permitindo aos países europeus criar e aceder a mercados estáveis e com potencial de crescimento para os seus bens e serviços.
A educação e a troca tecnológica são, pois, uma peça-chave na parceria Europa-África. Em particular, África tem na sua população jovem um dos seus maiores ativos, o que torna o investimento em educação imperativo. A Europa assume aqui um papel decisivo, nomeadamente através do apoio às instituições de ensino, à formação profissional e no financiamento de bolsas de estudo, tudo instrumentos que visam capacitar os jovens africanos para lidar com os desafios da economia global. Em simultâneo, a cooperação tecnológica é também crítica, especialmente em áreas como a infraestrutura digital, as tecnologias da saúde e a inovação agrícola. Ao partilhar conhecimentos e tecnologia, as instituições europeias promovem a especialização local e incentivam a criação de inovações adaptadas aos contextos e necessidades específicas de África. Além disso, a melhoria da conectividade digital, feita em parceria com os europeus, ajuda a reduzir as disparidades entre as regiões africanas, aumentando o acesso à educação, à saúde e às mais diversas oportunidades económicas.
A relação África-Europa é também importante na abordagem da crise climática global. Embora África seja responsável por uma pequena parcela das emissões globais de gases com efeito de estufa, é uma das regiões mais vulneráveis às alterações climáticas. Os impactos — que vão desde secas e eventos climáticos extremos até à insegurança alimentar e escassez de água — são especialmente dramáticos numa grande parte do continente africano. Neste contexto, as nações europeias, com as suas tecnologias avançadas e estruturas políticas, devem de apoiar o desenvolvimento africano, incorporando desde o início práticas que sejam ambientalmente sustentáveis. Assim, projetos centrados em energias renováveis e na agricultura amiga do ambiente (nomeadamente no que toca ao uso da água) são absolutamente centrais para promover comunidades africanas mais prósperas, resilientes e desenvolvidas.
As migrações representam outro fator crítico nas relações entre África e Europa. Como sabemos, os fluxos migratórios de África para a Europa são frequentemente descontrolados, impulsionados por dificuldades económicas, instabilidade política e desafios ambientais severos. A Europa, de forma compreensível, tem abordado estas movimentações sob uma perspetiva de segurança interna. No entanto, é fundamental perceber que estes fluxos não cessarão enquanto não forem abordadas as suas causas profundas. Por isso, investir na criação de emprego, educação e saúde em África é também do interesse dos países europeus. Ao mesmo tempo, é crucial que a diplomacia europeia contribua para a estabilização política em todo o continente africano, assegurando que os potenciais avanços económicos impactam positivamente a vida das populações. Só combinando estes dois aspetos será possível aliviar as pressões que levam as pessoas a deixar os seus países de origem em busca de um futuro melhor para si e para os seus filhos na Europa. Neste sentido, as parcerias que promovam o desenvolvimento de competências, o empreendedorismo e a criação de oportunidades de emprego em África são essenciais, pois reduzem o incentivo à emigração. Se bem-sucedida, esta abordagem permitirá a implementação de políticas de migração verdadeiramente planeadas, algo que certamente beneficiará a Europa, transformando o potencial migratório africano numa fonte de vitalidade económica.
Portugal, com os seus laços históricos profundos com países africanos como Angola, Moçambique e Cabo Verde, desempenha um papel fundamental na construção de pontes com o continente africano. A sua relevância assenta na língua comum, no património cultural partilhado e nos laços históricos que ligam de forma indelével Portugal a África. O nosso País é, assim, um interlocutor natural para as aspirações africanas e um facilitador da cooperação em áreas como o comércio, a educação e a cultura. Dentro de Portugal, a região do Algarve exemplifica como uma economia local pode envolver-se nas relações África-Europa. De facto, o Algarve e Marrocos partilham várias características na sua atividade agrícola, produzindo culturas comuns, como citrinos e legumes. No entanto, o Algarve destaca-se pelos elevados padrões de qualidade e segurança alimentar, que podem servir de referência para Marrocos. Por outro lado, a experiência do Algarve em ecoturismo também cria oportunidades para o intercâmbio de conhecimentos, algo que poderia contribuir para o desenvolvimento de um turismo sustentável no Norte de África.
Num mundo cada vez mais interconectado, o sucesso de uma região está inexoravelmente ligado à estabilidade e ao progresso de outras. África e Europa, como vizinhas separadas por uma simples extensão do Mediterrâneo, estão particularmente bem posicionadas para influenciar o futuro uma da outra. Uma África resiliente e próspera beneficia a Europa, tal como uma Europa estável e inovadora beneficia África. Juntas, podem liderar pelo exemplo, demonstrando como as parcerias regionais podem enfrentar desafios globais e construir um futuro sustentável para todos.
NOTA: Este artigo apenas expressa a opinião do seu autor, não representando a posição das entidades com as quais colabora.