A revisão do Sistema de Comércio de Emissões da União Europeia (ETS2) representa um marco decisivo para as empresas, especialmente para as que dependem de combustíveis fósseis. A meu ver, estas alterações vão transformar fundamentalmente a forma como as empresas abordam as emissões de carbono e a gestão de energia. As exigências são, desde logo, elevadas: a expansão do âmbito do ETS2, o aumento dos preços do carbono e os requisitos rigorosos de monitorização significam que as empresas não podem manter o statu quo.
O ETS da União Europeia tem sido, desde há muito, uma abordagem orientada para o mercado com o objetivo de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, para indústrias com elevadas taxas de emissões. Alcançou um sucesso notável, incentivando as empresas a negociar licenças de carbono sob um teto decrescente. Agora, os desafios aumentam. O ETS2, com início previsto para janeiro de 2025 e aplicabilidade prática em 2027, alargará o seu alcance, mesmo que de forma indireta, ao transporte rodoviário, aos edifícios e restantes indústrias – setores que até agora não eram afetados diretamente.
Esta expansão, juntamente com o fim gradual das licenças de carbono gratuitas, indica uma postura mais agressiva para a redução de emissões, com implicações financeiras profundas, diretas e acentuadas para as empresas em diversas indústrias. Os preços das licenças de carbono têm flutuado significativamente nos últimos anos e, com previsões a apontar para uma subida até €146 por tonelada até ao final da década – hoje a €70 –, é evidente que estes custos só irão aumentar, pressionando ainda mais as despesas operacionais.
Esta flutuação nos preços das licenças poderá, por exemplo, refletir-se num aumento de 70% no preço de consumo de gás natural; tudo dependerá do controlo por parte da UE, sobretudo na injeção de novos créditos para fazer subir a oferta e assim reduzir o preço. Do lado dos comercializadores de combustíveis, para conseguirem manter a sustentabilidade do seu negócio, no fim de contas o esperado será alguma transferência destes custos acrescidos para os consumidores finais. Este torna-se, assim, um desafio direto para as empresas que dependem de combustíveis convencionais, ou que são eventualmente mais demoradas na adoção de tecnologias de consumo de energia descarbonizada (eletricidade verde, biodiesel, biogás…).
No entanto, há um lado positivo para as empresas que têm os olhos postos no futuro. As novas condições de mercado irão incentivar a um investimento na transição energética para tecnologias de baixo carbono — transformações que, a longo prazo, reforçarão a competitividade numa economia de baixo carbono. A adaptação imediata é crucial. As empresas que hesitem poderão colocar-se em desvantagem, não apenas devido ao aumento dos custos, mas também por causa dos riscos reputacionais associados à lenta adoção de práticas sustentáveis.
A revisão do mercado de carbono da UE marca, então, uma mudança importante. Os dias com quadros regulamentares mais permissivos chegaram ao fim. O futuro recompensará os que inovarem e investirem em tecnologias mais ecológicas. A mensagem é clara: a inação hoje levará a uma fatura mais pesada amanhã.
Sales Manager na Helexia