Naturalmente que vestir uma saia amarela, pintar o cabelo de azul ou ter como missão apanhar plástico não são exactamente características que se possam equiparar a ser alto ou baixo, por exemplo. A altura de cada um não é uma escolha. Entre a genética e a imprevisibilidade, a minha irmã tem menos 24 cm do que eu. Eu repeti os genes dos meus avós; a minha irmã tem exactamente a mesma altura da minha mãe. Podia ter sido ao contrário, mas ninguém nos pergunta como queremos ser. Somos como somos.
O mesmo princípio se aplica à deficiência física ou mental. Não é uma escolha. Seja ela de nascença ou adquirida ao longo da vida. Existe. Dificulta. Diferencia. Pode evoluir, pode regredir. Um caminho de luta, aceitação e superação feito muitas vezes pelos próprios, mas sempre feito por aqueles que estão à sua volta. E é esta “volta” que sublinho e quero ampliar nesta partilha que vos escrevo. Isolar o portador de deficiência com os seus familiares ou os seus pares é ignorância. É negligência. É desumano. Lá vamos nós para o clássico “olhar para o lado” ou “vamos fingir que não existe”. Podemos também optar pelo “tenho muita pena” e ainda com o “não posso fazer nada”.
Na verdade, este último pode ser um bom ponto de partida. Da mesma forma que não agrupamos os baixos ou os altos, façamos todos a nossa parte por uma sociedade que não pode ser “cada vez mais inclusiva” mas totalmente inclusiva. E não, não somos todos iguais. A deficiência é uma realidade, mas não é sinónimo de finitude. Essa, no caso da vida, pertence à morte e será sempre o ponto de chegada para todos nós. Altos e baixos. O que fazemos até lá é caminho, percurso! E todos temos um, com mais ou menos dificuldade.
Da mesma forma que os altos chegam onde os baixos não conseguem e vice-versa, percebamos todos que há vida na deficiência. Muita vida. E a ajuda, aprendizagem, solidariedade e compreensão têm de ser transversais. Palavras que a minha mãe toda a vida incluiu no seu discurso e incutiu na minha educação. Sendo Professora do Ensino Especial, o convívio com a diferença era total. Alunos que partilhavam a nossa casa e histórias que sempre me fizeram ver para além de “à minha volta”.
À nossa volta só existe um mundo. De todos.
Chegou a altura de baixarmos a guarda e de elevarmos os gestos. A diferença reside aí.