Menos de um dia após o anúncio da exoneração de Francisca Carneiro Fernandes do cargo de presidente do Conselho de Administração da Fundação do Centro Cultural de Belém (CCB), foi lançada uma petição - que à hora de publicação deste texto já contava com centenas de assinaturas - que questiona Dalila Rodrigues, ministra da Cultura, que tomou a decisão de “imprimir nova orientação à gestão”.
“Exigimos uma clarificação da situação criada pela Sra. Ministra da Cultura que não prestou qualquer declaração sobre este assunto e é claramente insuficiente o argumento do ‘novo rumo’ que novo rumo?”, pode ler-se.
É numa carta aberta dirigida ao primeiro-ministro que “o conjunto de cidadãos abaixo-assinados” pede oito respostas, incluindo qual a avaliação feita do mandato de Francisca Carneiro Fernandes, que acaba por ser afastada do cargo poucos dias antes de completar um ano em funções. Pedem ainda explicações e razões para a mudança e qual a estratégia agora adotada.
Os signatários pedem informação sobre como foi escolhido o novo presidente da fundação, Nuno Vassallo e Silva, assim como se o primeiro-ministro considera que “a avaliação de competências técnicas, experiência e percurso profissional dos empossados têm estado subjacentes” às várias exonerações no setor da cultural.
Foi esta quinta-feira que ministra da Cultura anunciou que o historiador de arte Nuno Vassallo e Silva seria o novo presidente do Conselho de Administração da Fundação CCB. Assim, Francisca Carneiro Fernandes, nomeada pelo ex-ministro Pedro Adão e Silva, saia da instituição pouco antes de completar um ano em funções e deixando pelo caminho a missão de aproximar as artes plásticas das artes performativas. Dalila Rodrigues justificou a decisão com a intenção de “imprimir nova orientação à gestão”.
Um comunicado de três parágrafos anunciou ontem o afastamento de Francisca Carneiro Fernandes, escolhida pela anterior tutela por ter “experiência em gestão de equipamentos culturais e proximidade às artes performativas”. Dalila Rodrigues defendeu apenas no texto que a mudança ocorre “para garantir que a fundação [CCB] assegura um serviço de âmbito nacional, participando num novo ciclo da vida cultural portuguesa”.
Após o anúncio, a Comissão de Trabalhadores (CT) da Fundação CCB lamentou “profundamente” a exoneração de Francisca Carneiro Fernandes, sublinhando que esta trouxe “uma abertura de diálogo e vontade imediata de resolver falhas sistémicas várias vezes reportadas à anterior administração, nomeadamente na área performativa”. E “contribuiu para uma reestruturação fundamental e urgente através de uma gestão eficaz e integrada das equipas, com a entrada, pela primeira vez na história do CCB, de uma diretora artística, Aida Tavares”.
Duas semanas antes da decisão se tornar pública, o gabinete da ministra da Cultura tinha afirmado “publicamente” que não haveria mudanças na administração do CCB.
Mal deu entrada no Ministério da Cultura, Dalila Rodrigues procedeu também à substituição das lideranças da Museus e Monumentos de Portugal e do Instituto Património Cultural (MMP). Também Pedro Sobrado foi afastado da MMP e regressou à direção da administração do Teatro Nacional de São João antes de completar um ano em funções, tendo sido substituído pelo ex-diretor do Museu do Azulejo, Alexandre Nobre Pais. À frente do Património Cultural ficou João Soalheiro, cuja gestão já mereceu uma investigação da Inspeção Geral das Atividades Culturais devido às acusações de comportamentos alegadamente autoritários. O processo foi arquivado.