Conan O'Brien recebeu o Prémio Mark Twain de Humor Americano este domingo com uma crítica mais ou menos direta a Donald Trump, descreve a “Reuters”. Aliás, a gala de atribuição do galardão foi pejada de críticas ao Presidente americano, que se tornou presidente da instituição e pretende fazer uma viragem conservadora na sua programação.

O antigo apresentador de talk shows e comediante dirigiu os comentários sem referir diretamente o republicano: "[Mark] Twain odiava bullies", disse O'Brien. "Ele tinha uma profunda empatia pelos fracos", acrescentou. O'Brien descreveu Twain – autor e comediante falecido em 1910 e mais conhecido pelos romances “As Aventuras de Tom Sawyer” e “Aventuras de Huckleberry Finn” como "alérgico à hipocrisia" e desconfiado do populismo e do imperialismo. "Ele amava a América, mas sabia das suas falhas", declarou.

O evento da entrega de prémios foi o primeiro que ocorreu no Kennedy Center, sediado em Washington, desde que Trump anunciou que se tornaria presidente da instituição, substituindo o filantropo bilionário David Rubenstein. Trump também despediu os membros do conselho de administração nomeados pelo ex-Presidente Joe Biden e passou o comando da instituição, a título provisório, a Richard Grenell, um aliado próximo e ex-embaixador na Alemanha, durante o primeiro mandato de Trump.

De acordo com Donald Trump, todos as pessoas demitidas da instituição, uma das mais prestigiadas na sua área nos EUA, “não partilham” a visão da atual administração de “uma Idade do Ouro” nas artes e cultura.

Críticas em forma de comédia

Outros comediantes, ao longo do evento, brincaram que este seria o último prémio Mark Twain – atribuído desde 1998 – concedido pelo centro. John Mulaney – um dos vários comediantes, atores e apresentadores que homenagearam O'Brien, ao lado de David Letterman, Will Ferrell, Adam Sandler, John Mulaney, Sarah Silverman, Stephen Colbert ou Bill Burr – disse que o centro seria renomeado em homenagem a Roy Cohn, conhecido pelo seu papel nas campanhas de intimidação anticomunista do senador Joseph McCarthy na década de 1950 e advogado de Trump nos seus primeiros anos nos negócios.

Conan O'Brien no palco do Kennedy Center
Conan O'Brien no palco do Kennedy Center Craig Hudson

O'Brien disse ainda aos repórteres, antes do espectáculo, que queria ir ao evento para apoiar os trabalhadores do Kennedy Center. "O nosso país passou por muitas mudanças diferentes. Estarei aqui especificamente para homenagear Mark Twain e as pessoas que este prémio representa", disse.

Futuro da instituição será um desafio

Numa declaração ao “Wall Street Journal”, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que "o Kennedy Center aprendeu da maneira mais difícil que, se formos 'woke', vamos à falência".

"O Presidente Trump e os membros do seu recém-nomeado conselho de administração estão empenhados em reconstruir o Kennedy Center, transformando-o numa instituição próspera e altamente respeitada, onde todos os americanos e visitantes de todo o mundo possam desfrutar das artes com respeito pela grande história e tradições dos Estados Unidos", acrescentou Leavitt.

Ao afastar David M. Rubenstein, Trump retirou de cena o maior doador do centro e agora vai enfrentar a tarefa de reunir financiamento, algo que para Michael M. Kaiser, que foi presidente do Kennedy Center durante 13 anos, constitui "um desafio muito grande".

Citada pelo “The New York Times”, Rutter diz que o processo de obtenção de fundos é "muito mais complexo do que alguém realmente compreende", aludindo para a necessidade de cultivar relações com os artistas, supervisionar pessoal e trabalhar com o Congresso e a Casa Branca.

"Estou muito, muito, muito triste com o que acontece aos nossos artistas, com o que acontece nos nossos palcos e com o pessoal que os apoia", disse Rutter durante uma entrevista à NPR.

"O Kennedy Center é suposto ser um farol para as artes em toda a América, em todo o país", acrescentou.

O centro, que funciona sob a Smithsonian Institution como uma parceria público-privada, tem apenas 16% do seu financiamento proveniente do governo federal, cerca de 43 milhões de dólares, que é aplicado em manutenção e obras.

Trump preside agora a uma direção que, por tradição, estava dividida entre nomeados democratas e republicanos, mas que é agora predominantemente republicana, com recentes adições, incluindo a Procuradora-Geral Pamela Bondi, a estrela de música 'country' Lee Greenwood e a chefe de gabinete da Casa Branca Susie Wiles.

Consultores do Kennedy Center, como o músico Ben Folds e a cantora Renée Fleming, demitiram-se e o ator Issa Rae cancelou um espetáculo. Durante um concerto no fim de semana passado que decorreu como previsto, a cantora e compositora Victoria Clark usou uma t-shirt onde se lia "ANTI TRUMP AF".

Trump ignorou principalmente o centro durante seu primeiro mandato, tornando-se o primeiro Presidente a não comparecer na cerimónia anual de honras organizada pelo centro para homenagear personalidades americanas.

Refletindo a sua abordagem geral de governo, Trump tem sido muito mais agressivo e proativo no seu segundo mandato, citando algumas atuações 'drag' no centro como uma razão para o transformar completamente.

No final da década de 1950 o presidente republicano Dwight Eisenhower apoiou um projeto de lei do Congresso liderado pelos democratas que pedia um "Centro Nacional de Cultura".

Já no início da década de 1960, o Presidente democrata John F. Kennedy lançou uma iniciativa de angariação de fundos e o seu sucessor, o Presidente Lyndon B. Johnson , promulgou um projeto de lei de 1964 que passou a designar o projeto como Centro Memorial de Artes Performativas John F. Kennedy, um ano após a morte do seu antecessor.