Consistência. Eis a palavra-chave deste restaurante que ao longo de quase 40 anos de vida se tornou uma referência intemporal. Poderia constar no capítulo dos espaços “fora do circuito” embora, não tendo mudado de morada, já tenha sido mais deslocado. “Nesse tempo, a estrada terminava no restaurante”, esclarece Pedro Nunes sobre o final dos anos 80, quando deixou para trás uma vida diferente para abraçar a paixão pela cozinha e assumir, para nunca mais abandonar, os comandos da casa, localizada numa zona com muita indústria e vista sobre o estádio do Moreirense.
Autodidata, sempre se considerou mais cozinheiro do que chef. É sob a sua batuta que, diariamente, no restaurante S. Gião, em Moreira de Cónegos, os clássicos da ementa, inspirados na cozinha portuguesa – “cozinhamos a lenha há 37 anos” –, mas também francesa, italiana e espanhola, convivem com criações espontâneas, a convidar a novas aventuras do palato, sem nunca se desviar de uma abordagem requintada. “Só cozinho aquilo de que gosto”, assegura Pedro Nunes. Reforça-se a mensagem no primeiro contacto: “Focados desde o início na criação de uma referência gastronómica nacional, oferecendo uma cozinha que honra as tradições portuguesas com um toque inovador”, anuncia-se na página oficial do restaurante São Gião.
A ementa, sempre extensa e variada a cada dia, permite quase trinta opções, só nos principais. “Não consigo baixar o número de pratos”, desabafa. “Carpaccio de boi”, “Salada de pescada e gambas”, “Tripas à moda de S. Gião" (€20,50), e “Raviólis de boletos com rabo de boi e trufa negra” (€23) são alguns dos que “nunca tiraria da ementa”. Sem abandonar o registo clássico, assente na decoração elegante e calorosa, na arquitetura abrangente da sala, na emblemática lareira que aconchega dias e noites frios, ou no equilíbrio exemplar do serviço, assegurado há décadas pelos mesmos quatro empregados de mesa, mestres na arte de antecipar e servir com diligência.
Mais recentemente, o filho, João, regressou de uma experiência internacional para se juntar à equipa e, discretamente, acrescentar renovados motivos de interesse a um conceito que se manteve sempre atual, renovando a seleção vínica, sugerindo novos pratos e apostando em diferentes públicos. “A cada visita ao S. Gião, há uma nova história que começa. Na nossa cozinha, a narrativa é tecida com os sabores da estação, onde cada ingrediente é o protagonista de um prato que conta um capítulo da nossa rica tradição gastronómica”, garante-se.
“A grande dificuldade não é cozinhar bem ou mal. É ter uma boa equipa”
Com serviço de take-away e os almoços de domingo dedicados aos pratos de tradição e de partilha (servidos por encomenda e com propostas de estação), a ementa fervilha de opções, do “Tutano de vitela, soja e gengibre” ao “Capão assado no forno” e a “Açorda de perdiz com espargos verdes”. Abordagens recentes são ainda “Choco frito com biavotto de limão e hortelã”, “Pastéis de capão e perdiz com risotto de trufa negra” e “Peito de pato fumado com molho de amoras”.
“A grande dificuldade não é cozinhar bem ou mal. É ter uma boa equipa”, sustenta Pedro Nunes, destacando o grupo que conserva “muito consistente e isso é que faz a diferença”. “Gosto muito daquilo que faço. Conseguir ganhar dinheiro com isso, ainda melhor”, desabafa.
O restaurante S. Gião integrou a seleção de “20 restaurantes que não passam de moda”, um guia oferecido pelo Expresso no âmbito dos 20 anos da marca Boa Cama Boa Mesa. Na ocasião, o projeto de Pedro Nunes também foi distinguido, em 2023, com o prémio “Mesa com Mérito”, que prestou homenagem aos restaurantes e alojamentos que estiveram presentes em todas as edições do Guia Boa Cama Boa Mesa desde 2003. Desde essa data, o S. Gião conquistou por 13 vezes o Garfo de Ouro.
Sobre o restaurante S. Gião (Avenida Comendador Joaquim de Almeida Freitas, 56, Moreira de Cónegos. Tel. 253561853), que encerra domingo (jantar) e segunda-feira, pode ler-se no Guia Boa Cama Boa Mesa 2024: “Com uma consistência singular e há quase quatro décadas de portas abertas, mantém-se referência nacional. A responsabilidade é de Pedro Nunes, que, de forma exímia, confeciona pratos tradicionais e criações mais modernas. As “Tripas à moda de S. Gião” e o “Colarinho de pescada à S. Gião” são clássicos, mas vale a pena arriscar nos “Ravióli de boletos com rabo de boi e trufa negra”. Preço médio: €40.