
Os trabalhadores da Santa Casa da Misericórdia de Serpa reuniram-se em plenário esta semana, exigindo o pagamento de retroativos salariais, do subsídio de Natal de 2024 e do subsídio de férias de 2025.
O Movimento pela Defesa do Hospital de S. Paulo solidarizou-se com os profissionais e responsabiliza a gestão hospitalar e decisões políticas anteriores pela situação de instabilidade que a instituição atravessa.
Duarte Lobo, representante do Movimento, em declarações ao Jornal oDigital.pt considera que a atual crise «é consequência direta da opção de entregar, em 2014, a gestão do Hospital de S. Paulo à Santa Casa da Misericórdia». Sublinha, no entanto, que o movimento «sempre teve como objetivo apoiar a Santa Casa», reconhecendo o seu papel social essencial no concelho. «Não é por ser a Santa Casa, é porque consideramos que não havia capacidade instalada nem meios para assumir a gestão hospitalar», afirmou.
O comunicado emitido esta semana denuncia ainda que a Santa Casa está em situação financeira crítica, sob um Plano Especial de Revitalização (PER), e que a falta de pagamentos atinge dezenas de famílias do concelho. Segundo Duarte Lobo, «os retroativos salariais remontam a 2022, quando as tabelas salariais do setor social começaram a ser atualizadas, sem que tivessem sido aplicadas na instituição».
O mesmo responsável critica também o incumprimento de promessas feitas por responsáveis políticos. «Em 2024, o então secretário de Estado da Saúde, Ricardo Mestre, esteve em Serpa e anunciou a inauguração do bloco médico-cirúrgico com nova gestão entregue à União das Misericórdias Portuguesas. Mas tudo ficou nas fotografias. Nada aconteceu», referiu. Para além disso, apontou falhas ao atual deputado eleito por Beja, Gonçalo Valente, que, «apesar das visitas e promessas, não apresentou qualquer solução concreta».
De acordo com o Movimento, a construção de um bloco médico-cirúrgico que permanece sem funcionar representa mais um exemplo de «investimento sem retorno» e de promessas falhadas que agravaram a situação da instituição. «A Santa Casa está agora a gerir múltiplas valências sociais e de saúde sob pressão, e a sua eventual insolvência colocaria em causa diversos serviços essenciais à comunidade», alertou Duarte Lobo.
Apesar das críticas, o Movimento reafirma a sua solidariedade com a Santa Casa, sublinhando que «o seu papel social é mais valioso do que a mera gestão hospitalar». No entanto, defende como imperativa a reversão da gestão do Hospital de S. Paulo para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). «O SNS, apesar das suas dificuldades, continua a ser um serviço universal e justo. A reintegração do hospital ao SNS seria uma medida equilibrada para proteger os trabalhadores e garantir cuidados de saúde à população», defendeu.
O Movimento pela Defesa do Hospital de S. Paulo informou ainda que solicitou audiências à Ministra da Saúde e aos três deputados eleitos por Beja, exigindo não só o pagamento dos salários em atraso como também a responsabilização pela situação criada e a discussão da reversão da gestão hospitalar. Até ao momento, segundo Duarte Lobo, ainda não foi obtida qualquer resposta.