
Algum espólio da Casa Museu dos Patudos está num estado de conservação pouco digno de fazer parte de um acervo museológico dada a sua degradação, segundo a presidente da Câmara, Sónia Sanfona, lamentou em sessão da Assembleia Municipal de Alpiarça.
A autarca respondia a uma questão feita pela deputada da bancada socialista Alzira Agostinho sobre a saída do antigo responsável do museu, Nuno Prates, que rumou à Câmara da Chamusca, segundo Sónia Sanfona, a pedido do próprio para integrar “um projeto que lhe interessava, eventualmente”. A edil aproveitou a deixa para deixar críticas severas ao trabalho do ex-responsável da Casa Museu.
“Há um conjunto de questões que se levantaram com a prestação do doutor Nuno Prates (…) Nesse seu percurso, onde há seguramente coisas muito positivas, verificámos um conjunto de outras coisas muito preocupantes”, explicou a presidente alpiarcense, assumindo ainda que não tivesse pedido a mobilidade, o técnico superior de história encarregue por desenvolver todo o trabalho relacionado com a Casa, como definiu Sónia Sanfona, não iria continuar a desempenhar essa função.
O estado de conservação em que a autarca afirma ter encontrado várias peças da reserva da Casa Museu dos Patudos, das quais mostrou imagens durante a sessão, torna-as irreparáveis e dificilmente substituíveis já que se encontram “num estado pouco mais que miserável”. Carpetes e peças de tapeçaria danificadas e apodrecidas, bancos desgastados, cortinas rotas, um guarda sol pertencente a D. Eugénia praticamente desfeito, móveis danificados, colchas de Castelo Branco armazenadas em baús cheios de pulgas.
A autarca explicou ainda que durante uma visita à casa, com o objetivo de planear a instalação de uma cafetaria num espaço contíguo à cozinha foi encontrado o espólio “perdido” do antigo cinema de Alpiarça e que pertence à Sociedade Filarmónica Alpiarcense 1.º de Dezembro e que a autarquia não fazia ideia ter armazenado.
O antigo responsável pela Casa Museu José Relvas utilizou a sua página na rede social Facebook para repudiar e desmentir as acusações que Sónia Sanfona lhe imputou onde refere que a má gestão do património foi feita após a sua ausência, uma vez que não se encontra ao serviço há cerca de um ano.
“Acho profundamente lamentável que, não estando eu a desempenhar funções na Casa dos Patudos desde 29 de julho de 2024, altura em que fiquei de baixa médica, que me sejam imputadas condutas que não pratiquei, num chorrilho de inverdades, que têm como único propósito atribuir-me a responsabilidade por circunstâncias ocorridas durante a minha ausência.”, lê-se na publicação. Nuno Prates acrescenta ainda que desde 1 de Março de 2024 foi “esvaziado de funções na Casa dos Patudos e impedido de executar o meu trabalho, o qual foi assumido, integralmente, por outrem”. Nuno Prates abriu ainda o leque à possibilidade de avançar com um processo em tribunal pelas declarações da autarca.
“Atenta a gravidade das inverdades que a meu respeito foram proferidas, colocando em causa a minha honra e profissionalismo reservo-me no direito de prosseguir com as medidas que considero pertinentes para a defesa da transparência e da verdade”, vinca o ex-responsável.
Relembre que durante uma reunião do executivo alpiarcense, realizada a 1 de agosto de 2024, já a autarca alpiarcense tinha referido problemas na relação entre o técnico e o município e deixado críticas ao estado de conservação do acervo e da própria estrutura da casa onde viveu uma das figuras mais emblemáticas da implantação da República Portuguesa. Nessa mesma reunião a autarca anunciou que a ex-adjunta do gabinete de apoio à presidência, Marta Piscalho, tinha sido nomeada como “elemento de ligação entre o museu e o executivo”.
O NS tentou contactar Sónia Sanfona e Nuno Prates, mas até ao momento da publicação desta notícia não foi possível obter qualquer esclarecimento de ambas as partes.