A Sociedade de Instrução Musical (SIM) da Quinta do Anjo assinalou esta terça-feira, 24 de junho, 104 anos de história, cultura e resistência comunitária, numa cerimónia que esgotou o Salão Nobre e reforçou o papel ímpar da coletividade no panorama sociocultural do concelho de Palmela.

Num ambiente carregado de emoção e identidade, músicos, autarcas, sócios e dirigentes juntaram-se para celebrar mais de um século ao serviço da cultura popular. O evento, conduzido ao ritmo da banda filarmónica e do coro da casa, foi palco de discursos inspiradores e homenagens sentidas, revelando a vitalidade e o espírito agregador da instituição.

“Esta não é apenas uma coletividade: é um símbolo vivo da nossa terra”, afirmou a presidente da, SIM, evocando o legado de gerações que ali cresceram ao som da música e dos valores do associativismo.

A cerimónia contou com a presença do presidente da Câmara Municipal de Palmela, Álvaro Amaro, acompanhado pelo vice-presidente Luís Calha, pela vereadora da Cultura Maria João Camolas, e por vários representantes das Assembleias Municipal e de Freguesia. Nas palavras de Álvaro Amaro, a SIM é “o coração cultural da aldeia, anterior à própria criação da freguesia”, destacando o seu contributo como “laboratório vivo da cidadania” e “escola de participação democrática muito antes do 25 de Abril”.

Entre momentos de memória e renovação, a direção da coletividade homenageou Fernando Luís, ex-dirigente recentemente falecido, e outro membro histórico, cujas contribuições foram enaltecidas com “profunda gratidão”.

O evento marcou ainda a entrada simbólica de três novos músicos na banda — Andreia Silva (saxofone), Marquinhos Esteves (trombone) e Vasco Esteves (tuba) — representando a passagem do testemunho às novas gerações. Ao mesmo tempo, foi feito um reconhecimento público aos músicos Joel Bravo e Tiago Mata, que completaram 30 anos de dedicação ininterrupta à banda, em “três décadas de ensaios, atuações e camaradagem”.

“Se 104 anos nos trouxeram até aqui, que os próximos nos levem ainda mais longe”, apelou um dirigente emocionado, incentivando à mobilização da comunidade em torno da coletividade.

Na sua intervenção, o presidente da autarquia reforçou a importância de “não ceder ao isolamento e à virtualidade”, destacando o papel do associativismo como força mobilizadora num tempo marcado pela fragmentação social. Álvaro Amaro deixou também um compromisso claro: “As autarquias devem acompanhar os vossos sonhos e dar-vos asas”, apelando ao reforço dos apoios e à valorização das coletividades como motores de identidade e coesão local.

A noite encerrou com um testemunho íntimo do presidente da Assembleia Geral da SIM, que recordou a ligação familiar à instituição com a simplicidade dos que vivem por dentro a cultura popular: “O meu avô foi fundador, o meu pai foi músico, e eu, sem saber tocar, fiquei como dirigente. Esta casa sempre foi um farol cultural.”

A comemoração dos 104 anos da, SIM, da Quinta do Anjo provou mais uma vez que as raízes profundas e o envolvimento humano continuam a ser o maior património das instituições centenárias. Com o salão cheio e corações ligados pelo mesmo pulsar cultural, a noite não foi apenas de festa: foi de afirmação da força transformadora do associativismo.