A cortiça continua a afirmar-se como um dos ativos mais valiosos da economia portuguesa, contribuindo de forma decisiva para o desempenho da balança comercial do setor florestal. De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) na edição de 2024 das Estatísticas Agrícolas, “o saldo da balança comercial dos Produtos do setor florestal alcançou 3 063,7 milhões de euros em 2024, aumentando 180,5 milhões de euros comparativamente ao ano anterior”. Dentro deste conjunto, a cortiça foi o segundo grupo com melhor desempenho, com um saldo de 919,7 milhões de euros, logo a seguir ao papel e cartão, que registaram 1 024,4 milhões de euros.

Apesar deste resultado robusto, o setor da cortiça registou “um desagravamento de 16,5 milhões de euros” face a 2023, uma oscilação ligeira que não compromete o seu papel central nas exportações florestais. O relatório salienta que, entre os grupos analisados, “o grupo da Madeira continuou a ser o único deficitário (-256,7 milhões de euros)”, o que destaca ainda mais a resiliência e a vitalidade económica da cortiça no contexto nacional. A contribuição positiva da cortiça para o saldo global das exportações florestais é, assim, estrutural e sustentada, não apenas em termos de valor económico, mas também pela sua ligação a práticas de gestão florestal sustentável e à valorização dos ecossistemas mediterrânicos.

Portugal mantém-se como o maior produtor mundial de cortiça, com cerca de 730 mil hectares de montado de sobro, o que representa aproximadamente 34% da área global. Esta abundância de matéria-prima tem permitido alimentar uma indústria altamente especializada e orientada para a exportação. O próprio INE reconhece o peso da cortiça na estrutura económica do setor florestal, referindo que se trata de “um dos produtos com maior excedente comercial” e de “um importante motor das exportações portuguesas no domínio florestal”.

Ainda que os números apresentados se refiram apenas ao saldo comercial, é importante lembrar que a indústria corticeira portuguesa movimenta anualmente mais de mil milhões de euros em volume de negócios, empregando diretamente milhares de trabalhadores e sustentando a economia de diversas regiões do interior, particularmente no Alentejo e sul do Ribatejo, com destaque para Coruche, onde se concentra a maior parte da produção.

O sucesso da cortiça portuguesa também assenta na sua capacidade de diversificação e inovação. Embora as rolhas continuem a representar a maior fatia das exportações, há cada vez mais aposta em aplicações diferenciadas como revestimentos de pavimentos, isolamento térmico e acústico, design automóvel, aeronáutica e até moda. A procura crescente por materiais ecológicos e sustentáveis tem reforçado a atratividade da cortiça como produto premium, o que ajuda a explicar a manutenção de saldos comerciais elevados mesmo em anos de contexto económico adverso.

O INE sublinha ainda que, apesar dos desafios climáticos e de mercado, “os produtos do setor florestal mantêm uma performance positiva”, sendo que a cortiça, tal como o papel e cartão, “registaram os saldos mais elevados” entre todas as fileiras florestais analisadas. Esta constatação atesta a maturidade do setor e a sua robustez estrutural, que permite resistir a ciclos de maior instabilidade sem perdas significativas de competitividade.

Este desempenho é particularmente relevante num ano em que a floresta nacional sofreu impactos significativos dos incêndios. Em 2024, segundo o relatório, “a superfície ardida em Portugal correspondeu a 137,7 mil hectares no Continente”, o que representa “o terceiro ano mais severo da última década”. Embora o montado de sobro seja menos vulnerável ao fogo devido à espessura da casca do sobreiro e à sua capacidade de regeneração, a pressão sobre os recursos florestais em geral reforça a importância de manter práticas sustentáveis e planeamento a longo prazo.

A cortiça não é apenas um produto económico de excelência, mas também um emblema de identidade nacional, um símbolo de equilíbrio entre tradição e inovação, entre conservação ambiental e desenvolvimento industrial. Os dados agora apresentados pelo INE são claros: mesmo com flutuações pontuais, a cortiça continua a ser um dos principais motores das exportações portuguesas, contribuindo de forma decisiva para a sustentabilidade económica, ambiental e social do país.