
A devoção a S. Bento, uma das figuras mais marcantes da espiritualidade ocidental, está de regresso à Paróquia de S. Martinho de Friastelas, no concelho de Ponte de Lima, com a conclusão esta quarta-feira da novena em sua honra. Mas a verdadeira celebração ainda agora começa: nos próximos dias, a comunidade prepara-se para viver momentos de fé e tradição em memória daquele que ficou conhecido como o Pai da Europa, título atribuído pelo Papa Pio XII.
As comemorações religiosas, que se estendem até domingo, têm o seu epicentro na pequena capela dedicada a S. Bento, no Lugar da Torre, onde o santo é venerado há gerações por moradores e fiéis da região.
Nesta capela, situada junto aos limites com a Paróquia de S. Lourenço do Mato, mantém-se viva uma devoção que atravessa o tempo e que tem um significado especial para a comunidade, pela ligação direta a um santo que escolheu o retiro e a oração como caminho de vida.
A festa litúrgica de S. Bento assinala-se esta sexta-feira, 11 de julho, com uma celebração solene na Igreja de S. Miguel de Cabaços, freguesia vizinha que conserva vestígios da presença beneditina, os chamados “monges negros”, herdeiros espirituais da ordem fundada por Bento no Monte Cassino, em Itália, há quase 1500 anos.
S. Bento: um legado espiritual que moldou o Ocidente
Nascido por volta do ano 480, na região italiana de Núrsia, S. Bento, proveniente de uma família nobre, escolheu afastar-se da decadência moral e social do seu tempo. Retirou-se para uma gruta em Subiaco, onde viveu três anos em meditação. Mais tarde fundaria o célebre mosteiro de Monte Cassino, ponto de partida da ordem beneditina e da famosa regra do “Ora et Labora” — reza e trabalha — que marcou profundamente a espiritualidade, cultura e organização comunitária da Europa cristã.
A sua influência estende-se até hoje: equilíbrio, oração, estudo e trabalho manual são os pilares da Regra de São Bento, que se tornou referência para a vida monástica ocidental. Curou doentes, enfrentou tiranos e, segundo relatos históricos, predisse com exatidão a hora da sua morte, ocorrida a 21 de março de 547, após ter comungado pela última vez.
Friastelas une-se em celebração de fé e identidade
Este fim de semana, a Paróquia de Friastelas volta a abrir “as portas” ao acolhimento de fiéis, num ambiente de espiritualidade popular, onde S. Bento é invocado como intercessor e protetor. A sua figura inspira não só pela doutrina e disciplina espiritual que deixou, mas também pelo sentido de comunidade e hospitalidade que defendeu.
A celebração vai muito além do rito litúrgico — é também um gesto de memória coletiva, de pertença e de continuidade, numa freguesia que se orgulha da sua história religiosa e da ligação profunda aos seus santos patronos.
O encerramento da novena hoje, a celebração litúrgica na quinta-feira e os festejos paroquiais no sábado e domingo, compõem um ciclo de fé que reforça a identidade religiosa e cultural da região. Um sinal claro de que a tradição permanece viva, entre gerações que, com devoção e respeito, mantêm o nome de S. Bento gravado nas suas práticas e nos seus corações.