Nos últimos meses, o debate em torno da deslocalização do campo de tiro de Alcochete tem vindo a ganhar espaço no panorama mediático nacional. A decisão do Governo de avançar com a construção do novo aeroporto de Lisboa naquele local obrigará, inevitavelmente, à transferência das operações militares atualmente ali sediadas. Contudo, a questão que se impõe é: para onde? Se, por um lado, surgem propostas como Mértola, por outro, Penamacor, com o seu vasto campo de tiro e uma série de vantagens logísticas e ambientais, surge como a melhor solução.

Com a instalação do futuro Aeroporto Luís de Camões no campo de tiro de Alcochete, torna-se imperioso encontrar uma alternativa que possa acolher as operações de treino e instrução das forças armadas portuguesas. A premência desta decisão não pode, todavia, sobrepor-se à necessidade de um processo refletido, que considere os impactos ambientais, sociais e económicos sobre as regiões envolvidas.

Neste contexto, a hipótese de Mértola foi prontamente contestada pelas autoridades locais. Numa nota de imprensa datada de 19 de fevereiro de 2025, a Câmara Municipal de Mértola declarou não ter sido consultada, manifestando sérias preocupações quanto aos potenciais efeitos nefastos da instalação militar no concelho. As principais inquietações prendem-se com o impacto sobre a biodiversidade – com destaque para espécies ameaçadas como o lince-ibérico e a águia-imperial – e sobre as atividades económicas locais, como a agricultura e o turismo de natureza, que poderiam ser gravemente prejudicadas.

Penamacor: uma infraestrutura preparada e subaproveitada

Face às preocupações legítimas de Mértola, surge Penamacor como uma alternativa sólida e, em muitos aspetos, superior. O campo de tiro de Penamacor, também conhecido como Carreira de tiro de Souto da Arouca, é atualmente utilizado pelo centro de treino de sobrevivência da Força Aérea. Com uma vasta área de terreno e infraestruturas já preparadas para atividades militares, Penamacor é o segundo maior campo de tiro do país, a seguir a Alcochete.

A escolha deste local teria a vantagem de não partir de uma “folha em branco”: as instalações existentes podem ser adaptadas e expandidas, poupando tempo e recursos financeiros. Além disso, a experiência prévia da Força Aérea na gestão deste campo facilita a transição das operações.

Um dos principais trunfos de Penamacor é a sua localização. O concelho, situado na Beira Baixa, caracteriza-se por uma baixa densidade populacional, o que minimiza os impactos diretos sobre a população local. Diferente de Mértola, que se insere em zonas protegidas e com elevado valor ecológico, Penamacor está afastado de áreas de proteção ambiental sensível, reduzindo significativamente os potenciais danos ao ecossistema.

É fundamental sublinhar que a instalação de um campo de tiro e de treino militar implica ruído, movimentações constantes de veículos pesados e exercícios com munições. Num território como o de Penamacor, com extensões de terrenos desabitados e sem a presença de espécies ameaçadas em número significativo, estas operações podem ser realizadas com menor perturbação ambiental e social.

Para além das considerações técnicas e ambientais, importa olhar para o impacto económico e social que uma decisão desta natureza poderá ter para Penamacor. A instalação definitiva de operações militares no concelho traria benefícios inegáveis: criação de emprego direto e indireto, dinamização do comércio local, desenvolvimento de infraestruturas rodoviárias e maior visibilidade para a região.

Numa altura em que o interior do país luta contra a desertificação e o envelhecimento populacional, projetos que promovam a fixação de pessoas e o investimento local devem ser encarados como oportunidades únicas. A presença militar, além de gerar postos de trabalho para civis, estimularia o setor da construção e dos serviços, com alojamento e restauração a beneficiarem da maior circulação de pessoas.

Apesar das evidentes vantagens de Penamacor, é essencial que o Governo conduza este processo com transparência e diálogo aberto com todas as partes interessadas. A pressa em decidir, motivada pela necessidade de desocupar Alcochete, não pode justificar uma escolha precipitada.

A experiência recente com Mértola deve servir de alerta: ignorar as autarquias locais ou minimizar os impactos ambientais pode resultar em contestação pública e entraves legais. Neste sentido, Penamacor oferece não apenas uma solução tecnicamente viável, mas também uma que, à partida, encontrará menos resistência social e ambiental.

A questão da relocalização do Campo de Tiro de Alcochete não é apenas uma decisão logística. Trata-se de um processo que terá repercussões significativas para as regiões envolvidas e para o futuro das forças armadas portuguesas. Entre as alternativas em cima da mesa, Penamacor destaca-se por reunir um conjunto de características únicas: infraestruturas já existentes, localização estratégica com menores impactos ambientais, e um potencial de desenvolvimento económico para uma região que dele carece.

É hora de o Governo fazer uma escolha que vá para além das soluções mais óbvias ou politicamente convenientes. Penamacor não só está preparado para receber esta responsabilidade como é, objetivamente, a melhor opção para o país.

Se queremos um processo justo, sustentável e benéfico para Portugal, Penamacor deve ser considerado com toda a seriedade que merece.