Uma intensa onda de calor atravessa o sul da Europa, estabelecendo recordes históricos de temperatura e colocando vastas regiões em níveis máximos de alerta. Em Portugal, o fenómeno atingiu proporções impressionantes este domingo, com o termómetro a marcar 46,6°C em Mora, no distrito de Évora — valor apenas ligeiramente abaixo do recorde nacional absoluto, de 47,3°C, registado na Amareleja em 2003.

Além dos termómetros a baterem máximos, o calor extremo proporcionou fenómenos atmosféricos raros, como a formação de “nuvens rolo” em alguns troços do litoral português. Estas enormes nuvens horizontais foram vistas a deslocar-se do mar em direção às praias, gerando imagens espetaculares que rapidamente se espalharam pelas redes sociais.

Sete distritos em aviso vermelho

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) colocou em aviso vermelho — o mais grave da escala — os distritos de Lisboa, Setúbal, Santarém, Évora, Beja, Castelo Branco e Portalegre, entre domingo e terça-feira. Os restantes distritos continentais mantêm-se sob aviso laranja ou amarelo, variando ao longo dos dias.

Este calor extremo tem impacto direto no risco de incêndio rural, que permanece máximo em quase todo o Alentejo, numa altura em que bombeiros e protecção civil mantêm vigilância apertada para evitar ocorrências graves como as registadas recentemente em Aljustrel.

Mediterrâneo atinge temperatura sem precedentes

O fenómeno não se limita a Portugal. A temperatura média do mar Mediterrâneo atingiu no domingo os 26,01°C, o valor mais alto alguma vez registado para esta época do ano, segundo dados do programa europeu Copernicus analisados pela Météo-France.

Também em terra firme se vivem extremos inéditos. França registou a sua noite de junho mais quente desde que há registos e prepara-se para colocar Paris sob alerta vermelho. Esta segunda-feira, 84 dos 95 departamentos franceses estavam sob aviso laranja, algo considerado “sem precedentes” pela ministra Agnès Pannier-Runacher.

Em Espanha, a cidade de Huelva atingiu no sábado 46°C, estabelecendo um novo recorde para o mês de junho, ultrapassando a marca anterior de Sevilha (45,2°C) de 1965. Em Itália, 17 cidades, incluindo Roma, Milão e Florença, estão em alerta vermelho, com autoridades a instalar “abrigos climáticos” para proteger a população mais vulnerável.

Incêndios e tragédias humanas

O calor extremo não traz apenas desconforto. Em Itália, uma mulher de 77 anos morreu sufocada pelo fumo de um incêndio florestal em Potenza, no sul do país. Na Turquia, mais de 50 mil pessoas foram evacuadas em 41 localidades devido a fogos. Em Espanha, dois trabalhadores rodoviários morreram no sábado, provavelmente vítimas de insolação, levando sindicatos a exigir medidas para proteger quem labora ao ar livre.

Nos Balcãs e no Reino Unido, a onda de calor prolonga-se: a Croácia está maioritariamente sob alerta vermelho com temperaturas perto dos 35°C, enquanto o Montenegro enfrenta risco elevado de incêndios e a Sérvia sofre uma das secas mais severas dos últimos anos. No Reino Unido, o alerta âmbar foi ativado em Londres e outras quatro regiões no arranque do torneio de ténis de Wimbledon.

Mudanças climáticas a prolongar e intensificar fenómenos

Os especialistas alertam que estas ondas de calor estão a tornar-se mais longas, começam mais cedo e prolongam-se pelo final do verão, fruto das alterações climáticas globais. Antonio Spano, meteorologista italiano, salienta que esta é “uma das ondas de calor mais fortes do verão” e que se distingue sobretudo pela sua duração anormalmente longa.

O Alentejo, com o seu clima naturalmente seco, encontra-se na linha da frente deste fenómeno, obrigando autarquias, agricultores e população a redobrar cuidados para proteger pessoas, animais e culturas.