A época desportiva 2024-2025 está a acabar e não há muitos motivos para festejar.
Os casos de violência no desporto persistem e são, cada vez mais, o espelho da
sociedade em que nos tornámos. É grave, e devíamos preocupar-nos. Vários casos como os que se têm repetido deveriam obrigar quem de direito a refletir seriamente e a agir com firmeza. Mas continuamos a fingir que não é connosco.

Não é um exclusivo português, é verdade. Mas é em Portugal que vivemos e é aqui
que devemos intervir. Já o escrevi antes: nada, absolutamente nada, justifica a
violência – e só nos indignamos quando ela nos toca diretamente.
A sucessão de episódios é clara. O ambiente tóxico em muitos espaços desportivos
tornou-se banal. No desporto de formação, onde o ego já ocupa demasiado espaço,
há situações que exigem a presença das autoridades para proteger crianças e jovens.
É isto que está em causa.

Há ainda demasiados profissionais que repetem comportamentos inaceitáveis – e
que continuam impunes. Cabe aos clubes e às entidades reguladoras penalizar quem
insiste em manchar o jogo com atitudes vergonhosas. A isto juntam-se adeptos que
invadem os campos, confrontam árbitros ou atletas e, por vezes, cometem verdadeiros
crimes, aos olhos da lei e da ética desportiva. Ainda assim, estas atitudes são
frequentemente romantizadas, como se fossem sinal de paixão pelo clube. Não são.
São atos de descontrolo, de incitamento ao ódio, de falta de civismo e, pior ainda,
de um exemplo tóxico que se tolera e, em certos casos, até se aplaude.

É inadmissível ver atletas a pisarem adversários, a encostarem a cabeça aos árbitros,
a simularem faltas ou a provocarem sistematicamente. Todos podemos ter um mau
momento. Mas quando o comportamento se repete, deixa de ser um acaso – passa a
ser um padrão. E isso não se pode aceitar.

As redes sociais, longe de serem um espaço de reflexão ou debate, tornaram-se
amplificadores da violência e do ruído. Dão palco a quem não gosta verdadeiramente
de futebol – e até a quem não percebe nada de desporto. Promovem o extremismo, o
insulto, a intolerância. O que se publica nas redes ou se discute em programas de
entretenimento com o futebol como pano de fundo não tem credibilidade. E muitos dos
protagonistas desses espaços nem sequer aparecem quando o erro os favorece.
O erro faz parte do jogo. Sempre fez e sempre fará. Por muito que custe aceitar
determinados lances ou decisões, não é com escândalo nem com histeria que se
melhora o desporto. É com trabalho. É com cultura desportiva. É com ética – ou seja,
com respeito pelo jogo e pelos seus valores.

De pouco serve indignarmo-nos quando perdemos e celebrarmos sem pudor quando
ganhamos sem mérito. O desporto merece mais do que esta hipocrisia coletiva.

Vitor Santos (Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto)