A concelhia do PSD em Palmela enfrenta um momento de tensão interna. Uma carta anónima entregue na semana na redação do Diário do Distrito denuncia práticas que os signatários classificam como antidemocráticas, acusando a atual direção local de ignorar os estatutos do partido, excluir a participação dos militantes e centralizar decisões em torno de um núcleo restrito. A Comissão Política liderada por Roberto Cortegano rejeita todas as acusações e defende o cumprimento rigoroso das normas internas.

No documento, os autores lamentam que “há largos meses que não se realizam Assembleias de Militantes”, situação que consideram uma violação clara dos estatutos do PSD. A ausência de comunicação interna, debate político ou envolvimento da base na definição das estratégias autárquicas é outro dos pontos denunciados. “A opinião dos militantes simplesmente não é tida em conta”, referem, sublinhando um “ambiente de frustração e exclusão”.

A polémica acentuou-se com a recente escolha dos candidatos autárquicos. Os militantes afirmam que não foram auscultados nem informados, tendo tido conhecimento das escolhas através da comunicação social. “Ficámos a saber das decisões pelas notícias no vosso jornal”, escrevem, criticando aquilo que consideram um desrespeito pelos princípios democráticos internos.

A carta aponta ainda para uma “centralização absoluta da atividade política num grupo fechado e repetido”. Os signatários queixam-se de que “tudo é decidido por meia dúzia de pessoas”, e que os restantes militantes são tratados apenas como “números para pagar quotas ou para marcar presença em eventos”.

Contactado pelo Diário do Distrito, Roberto Cortegano respondeu ponto por ponto às críticas. Começando pela acusação de ausência de assembleias, o presidente da Comissão Política Concelhia afirma que a última sessão teve lugar a 20 de janeiro e que a próxima já está agendada para 27 de junho. Justifica o intervalo com “situações inesperadas”, como a realização das eleições legislativas.

Relativamente ao processo de escolha dos candidatos, assegura que “foi cumprido tudo conforme os estatutos” e que os nomes foram aprovados por unanimidade, por voto secreto, em sede da Comissão Política e posteriormente apresentados à Assembleia de Secção. Cortegano rejeita que tenha havido qualquer ocultação e garante que os militantes foram informados mediante canais institucionais e redes sociais.

Sobre as alegações de centralismo e falta de transparência, o dirigente nega “categoricamente” a existência de qualquer grupo fechado. “Todas as decisões são aprovadas em reunião da Comissão Política, por unanimidade, e dentro dos trâmites legais”, afirma, acrescentando que “nunca houve qualquer militante a manifestar queixa formal ou pessoalmente”.

O presidente da estrutura local salienta ainda o crescimento do número de militantes, o “reforço da participação jovem” com a reativação da JSD e a “forte adesão aos eventos do partido”. Questionado sobre as críticas de instrumentalização dos militantes, considera-as “afirmações ridículas”. “Vamos obrigá-los a pagar quotas ou a ir a eventos?”, ironiza.

Por fim, confrontado com a existência de militantes que não se identificam por medo de retaliações, Roberto Cortegano é taxativo: “Não deixo mensagens a anónimos. Não acredito que sejam militantes do PSD. São manobras para tentar desestabilizar.”