A Polícia Judiciária (PJ) deteve cinco funcionários públicos afetos aos portos de Setúbal e Sines, suspeitos de colaborarem com organizações criminosas internacionais dedicadas ao tráfico de cocaína, numa operação que expõe uma rede de corrupção em infraestruturas portuárias estratégicas para a economia nacional. A operação, designada ‘Porthos II’, decorreu este domingo, 13 de julho, e envolveu a Unidade Nacional de Combate à Corrupção.

Em comunicado, a PJ explica que os detidos terão agido em conluio com redes criminosas que operam na América Latina e utilizam os portos portugueses como pontos de entrada de estupefacientes no espaço europeu. As autoridades acreditam que os cinco arguidos facilitaram a entrada de grandes quantidades de cocaína dissimulada em contentores, manipulando procedimentos e burlando controlos logísticos.

Além das detenções, foram executados seis mandados de busca domiciliária e apreensão, no âmbito de um inquérito conduzido pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), com suspeitas dos crimes de corrupção ativa e passiva, tráfico de estupefacientes e branqueamento de capitais. A operação contou com 30 inspetores e seguranças da PJ, reforçando a dimensão da investigação em curso.

A PJ esclarece que a investigação teve origem em cooperação internacional com polícias estrangeiras congéneres, o que permitiu cruzar dados e reunir elementos probatórios que levaram agora à execução desta nova fase operacional.

“Estas organizações utilizam os portos nacionais como plataformas logísticas para introdução de droga na Europa”, lê-se na nota oficial da Polícia Judiciária, que admite que o esquema poderá ser mais amplo do que inicialmente estimado. A investigação prossegue com vista à identificação de todos os implicados e ao completo desmantelamento da rede.

Os cinco detidos vão ser presentes ao Ministério Público para primeiro interrogatório judicial, onde será decidido o seu eventual encaminhamento para prisão preventiva ou outras medidas de coação.

Operação ‘Porthos’ já tinha revelado indícios preocupantes

A atual operação surge como desenvolvimento da investigação ‘Porthos’, iniciada em fevereiro, que já tinha levado à detenção de quatro pessoas e à constituição de 15 arguidos, entre os quais cinco funcionários da Autoridade Tributária, dois deles detidos.

Nessa fase anterior, foram realizadas buscas em Lisboa, Setúbal, Sines e Leiria, com um total de 32 mandados de busca — 14 domiciliárias e 18 não domiciliárias. O material apreendido incluiu mais de meio milhão de euros em numerário, dez viaturas e cinco armas de fogo, indícios claros de enriquecimento ilícito e de uma rede bem estruturada.

As autoridades continuam a aprofundar o conhecimento sobre a extensão desta rede, cuja atuação poderá ter comprometido seriamente a integridade dos sistemas de fiscalização alfandegária e a segurança nos portos nacionais.

Esta nova fase levanta sérias preocupações quanto à vulnerabilidade dos portos portugueses perante o crime organizado internacional e reforça a necessidade de vigilância reforçada e de auditorias internas às estruturas operacionais portuárias.