
Num momento em que o mundo enfrenta tensões identitárias e discursos polarizados, o Seixal acolhe uma exposição que se impõe como espaço de reflexão e transformação. “Afro Renaissance — Entre o Legado e as Transformações” foi inaugurada no passado sábado, 26 de julho, na Oficina de Artes Manuel Cargaleiro, com a presença de 190 convidados, e estará aberta ao público até 9 de agosto.
A mostra, promovida pela Afrikanizm Art — Plataforma de Arte Contemporânea Africana, reúne 45 obras de 13 artistas de Angola, Cabo Verde, Nigéria e São Tomé e Príncipe, cruzando gerações e expressões artísticas. A proposta é clara: desafiar narrativas únicas sobre a negritude e convidar à empatia, por meio de uma experiência sensorial e imersiva.
“Mais do que arte, a Afro Renaissance é um convite à memória, à união e à pertença. Uma celebração da humanidade e da transformação”, sublinhou o curador da exposição, João Boavida, sendo também o fundador da Afrikanizm Art. Destacando a envolvência natural da Quinta da Fidalga, Boavida afirmou que o espaço expositivo favorece um diálogo entre passado e futuro.
A exposição organiza-se em três áreas temáticas distintas. A primeira, “Entre o corpo e o símbolo: presenças incontidas”, explora o corpo negro como espaço de resistência e identidade, reinventando-o através da pintura, escultura e colagem. Aqui, a cor e o gesto tornam-se formas de libertação contra o exotismo e a normatividade.
Na segunda área, “Corpo sonhado, corpo desfeito”, os limites entre o real e o simbólico esbatem-se, e o corpo é tratado como portal onírico. As obras propõem uma leitura não linear da presença negra, onde a fragmentação e a multiplicidade são assumidas como potência criativa.
A terceira e última área, “Reescrever o visível: o arquivo como espaço de imaginação”, propõe uma abordagem crítica ao arquivo e à memória histórica da diáspora africana. As peças — com forte uso de fotografia, colagem e elementos cerimoniais — recusam leituras nostálgicas e impõem-se como exercícios de invenção visual e política.
A curadoria reuniu artistas como António Ole, Blackson Afonso, Casca, Micaela Zua, Nelo Teixeira, René Tavares ou Uólofe Griot, entre outros, num diálogo plural e provocador, com origem em países como Angola, Nigéria ou Cabo Verde.
A exposição é organizada em parceria com a galeria internacional This is Not a White Cube, sediada em Lisboa, e conta com o apoio da Câmara Municipal do Seixal. Pode ser visitada de terça-feira a sábado, entre as 10h00 e as 12h00, e das 14h00 às 17h00.
Recorde-se que a Afrikanizm Art já havia promovido no início deste ano a exposição “Black Lies Matter”, também no Seixal, que atraiu 2.800 visitantes de todo o país e de mais de 20 nacionalidades. Com “Afro Renaissance”, a plataforma reforça o seu compromisso com a valorização da arte africana contemporânea, não como exótico, mas como essencial ao debate global sobre identidade, memória e futuro.