A Europa vive uma das mais agressivas e prolongadas ondas de calor da sua história recente, com impactos devastadores que se estendem dos Balcãs a Inglaterra e com epicentro térmico em Portugal, França, Espanha e Itália. Lisboa, Setúbal, Évora e outras cinco capitais de distrito portuguesas estão sob aviso vermelho do IPMA, com o termómetro a atingir os 46,6 °C em Mora (Évora) — um valor próximo do recorde nacional absoluto de 47,3 °C registado em 2003, na Amareleja.

A dimensão do fenómeno meteorológico não tem paralelo. Em Portugal, raras “nuvens rolo” formaram-se sobre o litoral, impressionando banhistas e curiosos com o seu aspeto cilíndrico a deslocar-se do mar para terra. O fenómeno, associado a condições atmosféricas extremas, foi largamente partilhado nas redes sociais.

Sete distritos estão sob aviso vermelho até terça-feira, e o resto do país com níveis de alerta laranja ou amarelo. A crise não é apenas nacional: o mar mediterrâneo registou a maior temperatura de superfície de sempre, com 26,01 °C, segundo dados do programa europeu Copernicus.

Em França, o calor registado bateu recordes históricos em junho, tendo sido medida a noite mais quente de que há registo para este mês. A Météo-France emitiu alerta vermelho para Paris, enquanto 84 dos 95 departamentos do país estão em alerta laranja, o que o governo francês considera uma situação “sem precedentes”.

Também em Espanha, a escalada térmica faz história: Huelva atingiu 46 °C no sábado, ultrapassando o anterior máximo de Sevilha em 1965. A agência meteorológica Aemet confirmou recordes absolutos em várias estações durante esta vaga de calor.

A Itália entrou igualmente em estado de alerta, com 17 cidades, incluindo Roma e Milão, sob aviso vermelho. Em Bolonha, foram instalados abrigos climáticos, enquanto em Ancona foram distribuídos desumidificadores a populações vulneráveis. Na cidade de Potenza, uma mulher de 77 anos morreu asfixiada pelo fumo de um incêndio florestal que deflagrou nas imediações da sua residência.

Na Turquia, mais de 50 mil pessoas foram retiradas de 41 localidades devido a incêndios incontroláveis. Na Croácia, praticamente toda a linha costeira está sob alerta vermelho com temperaturas acima dos 35 °C, e o Montenegro enfrenta risco elevado de incêndios, enquanto a Sérvia sofre uma seca severa. No Reino Unido, cinco regiões inglesas, incluindo Londres, estão sob alerta âmbar, precisamente no dia de arranque do torneio de Wimbledon.

As alterações climáticas antecipam, prolongar e intensificar as ondas de calor, como confirma o especialista italiano Antonio Spano, que classificou este episódio como “uma das vagas mais fortes e longas deste verão”.

A dimensão, intensidade e duração da presente onda de calor não só põem em risco a saúde pública e a segurança dos cidadãos, como também testam os limites dos serviços de emergência, da resiliência das infraestruturas e das políticas ambientais.