A Igreja da Misericórdia de Cabeção, no concelho de Mora, acolheu esta segunda-feira, 14 de julho, a cerimónia de assinatura de um protocolo de colaboração entre a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDR Alentejo) e a União das Misericórdias Portuguesas (UMP), que marca um passo estratégico na valorização e proteção do vasto património cultural das Santas Casas da Misericórdia da região.

O protocolo, o primeiro deste tipo celebrado a nível nacional, pretende consolidar e estruturar o trabalho conjunto já existente entre as duas entidades, com enfoque técnico e financeiro, e surge no âmbito das novas competências da CCDR na área da Cultura.

Em declarações ao Jornal oDigital.pt, Ana Paula Amendoeira, Vice-Presidente da CCDR Alentejo com a pasta da Cultura, afirmou que esta colaboração visa «articular toda a colaboração e o trabalho conjunto que fazemos com as Misericórdias» e «densificar no futuro aquilo que já vimos fazendo». A responsável sublinhou que a iniciativa resulta da necessidade de sistematizar os esforços desenvolvidos até agora, aproveitando também o trabalho da UMP no levantamento e inventário do património destas instituições, em particular no Alentejo.

Segundo Ana Amendoeira, existem atualmente cerca de 70 Misericórdias ativas na região, muitas delas detentoras de um vasto património edificado, móvel e documental, nem sempre classificado ou devidamente protegido. «Falamos de uma entidade única no mundo, com um património valiosíssimo e com particular destaque para o Alentejo», destacou a responsável, lembrando que muitas destas peças e edifícios «ainda não têm uma proteção legal» e que essa será uma das áreas prioritárias de atuação.

O novo protocolo permitirá reforçar o apoio técnico prestado às Misericórdias, nomeadamente na preparação de candidaturas e na maturação de projetos de intervenção patrimonial, mas também abrir caminho a apoios financeiros pontuais. «Temos dado apoios financeiros para projetos de pequena monta, nomeadamente na edição e programação cultural», referiu a dirigente, acrescentando que «em casos pontuais, também apoiamos intervenções de restauro e aquisição de equipamento».

Um dos exemplos práticos já em curso é o apoio técnico concedido pela CCDR Alentejo a várias Misericórdias nas candidaturas ao Fundo Rainha Dona Leonor, promovido pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. «Conseguimos agora um sucesso nas candidaturas de várias Misericórdias do Alentejo, como Arraiolos, Entradas, Gaveta ou Lavre, que obtiveram financiamento para recuperação de património», revelou.

O protocolo prevê também a articulação de estratégias comuns para a salvaguarda e divulgação do património das Misericórdias, incluindo ações para reativar instituições atualmente inativas. «Queremos contribuir para que algumas das misericórdias inativas possam retomar a sua atividade. Temos mais de 20 inativas em toda a região», referiu Ana Paula Amendoeira, salientando o papel histórico destas entidades na assistência social e no território: «São instituições muito antigas e muito fortes. Também queremos que continuem a ser fortes na região».

Para além dos edifícios e acervos móveis, a dirigente alertou para a importância dos arquivos das Misericórdias, muitos dos quais necessitam de organização e digitalização. «Há muito trabalho por fazer, mas temos já um diagnóstico feito e vamos intervindo de acordo com os meios disponíveis», afirmou.

O protocolo agora celebrado insere-se numa visão integrada de apoio à cultura, património e identidade regional, em articulação com os programas de financiamento nacionais e europeus. «É essencial ter uma metodologia sistemática para todo o território. Com este protocolo, damos um passo firme nesse sentido», concluiu.

O evento contou com o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Cabeção e do Município de Mora e insere-se numa estratégia mais ampla de afirmação do Alentejo como território de referência na salvaguarda do património cultural português.