
O presidente da Câmara Municipal de Vila Viçosa, Inácio Esperança, defendeu que a Batalha de Montes Claros, travada a 17 de junho de 1665, deve ser compreendida como um episódio profundamente ligado à história e identidade de Vila Viçosa. Em declarações no âmbito do congresso internacional «Portugal Restaurado. 360 anos da Batalha de Montes Claros», que decorre até dia 17 de junho nos concelhos de Vila Viçosa e Borba, o autarca afirmou que a vila teve um papel determinante no contexto da Guerra da Restauração.
«A Batalha de Montes Claros é a Batalha de Vila Viçosa. Resulta do cerco a Vila Viçosa e da tentativa de as tropas portuguesas virem salvar Vila Viçosa, que estava cercada», afirmou Inácio Esperança. O presidente da autarquia sublinhou que, embora o combate se tenha dado no atual concelho de Borba, «o local do encontro entre exércitos acontece na zona de Montes Claros, que é de facto o concelho de Borba. Mas Vila Viçosa tem aqui um papel central na restauração da independência».
Na sua leitura histórica, o autarca recordou que foi de Vila Viçosa que saiu a liderança do movimento restaurador: «Daqui sai o rei restaurador e daqui saiu toda a estratégia para implementar, de facto, de novo, a independência de Portugal». Relembrou ainda que, como noutras regiões do país, «aqui houve conjuras», mas destacou que «foi daqui que saiu o grosso da coluna para Lisboa».
Inácio Esperança associou ainda o processo de Restauração à transformação estrutural da vila: «Quem perdeu fomos nós, porque, efetivamente, com a saída do senhor Duque daqui e tornando-se rei em Lisboa, Vila Viçosa ficou efetivamente mais pobre». Nesse sentido, considerou que o fim do período ducal marcou uma viragem histórica: «É o princípio do fim de um período áureo e o início de uma decadência que se acentuou durante séculos».
O presidente da câmara considerou, no entanto, que esta memória não deve ser esquecida. «É um período áureo da nossa história que não podemos descurar, nem podemos deixar de comemorar», afirmou, explicando que a Câmara Municipal de Vila Viçosa se associou «desde a primeira hora» à organização do congresso, em parceria com a Universidade de Évora e com a Câmara Municipal de Borba.
Inácio Esperança sublinhou ainda o simbolismo da resistência calipolense no desfecho da batalha. «A Vila Viçosa estava cercada, era um símbolo da resistência. A Espanha cercava precisamente por isso», afirmou, acrescentando que «foi a consequência desse cerco que as tropas de Lisboa vieram para ajudar a combater os espanhóis que estavam a cercar Vila Viçosa».
Por fim, evocou o papel da rainha regente D. Luísa de Gusmão, natural de Espanha, que governou após a morte de D. João IV. «Foi a rainha regente porque os filhos eram menores. Quem combateu a Espanha para nos manter independentes foi, de facto, uma rainha que era espanhola de nascimento. Tem estas curiosidades, mas foi de facto uma grande mulher, uma grande rainha. E Portugal deve-lhe muito, como deve muito a Vila Viçosa e a D. João IV», concluiu.