
Falta de habitação, dificuldade em contratar nadadores-salvadores ou atrasos nos vistos de trabalho são algumas das queixas das associações do setor, sempre “na corda bamba” para garantirem a vigilância das praias do litoral alentejano.
“Andamos sempre aqui na ‘corda bamba’ para saber da disponibilidade dos estudantes, visto que a época de exames acaba no fim de junho”, disse um responsável de uma associação do setor, explicando que essa situação causa “transtorno na contratação” de nadadores-salvadores para o início da época balnear.
O mesmo responsável, João Lança, presidente da associação de nadadores-salvadores Seagull Rescue, de Grândola, no distrito de Setúbal, explicou hoje à agência Lusa que, apesar disso, este ano, o panorama é diferente.
A associação já tem “o efetivo completo”, que ronda os 50 elementos, para vigiar as praias do concelho de Grândola, onde a época balnear abriu a 31 de maio, e algumas do concelho de Odemira, distrito de Beja, cuja época abriu no início deste mês.
Mas, para garantir a vigilância, a associação deparou-se com um conjunto de obstáculos no recrutamento das equipas, ressalvou, dando como exemplo o aumento de reprovações na “renovação das certificações”.
“Existem muitas reprovações nas certificações e estamos a ver que, a nível de nadadores-salvadores de nacionalidade portuguesa, cada vez temos menos e alguma dificuldade em contratá-los”, observou.
Já no caso das praias vigiadas do concelho de Sines, distrito de Setúbal, António Mestre, presidente da Resgate – associação de nadadores-salvadores do Litoral Alentejano disse à Lusa que a equipa “está quase completa”, apesar de ter iniciado o processo “de recrutamento em janeiro” deste ano.
No seu entender, esta situação deve-se ao facto de existir “muita procura e pouca oferta”, o que faz com que, no arranque da época balnear, “os concessionários, que têm de garantir a vigilância das praias para abrir, sejam obrigados praticamente a duplicar os valores” para atrair os vigilantes.
Mas também “os atrasos nos vistos de trabalho” dos nadadores-salvadores estrangeiros, a maioria oriunda do Brasil e da Argentina, têm criado constrangimentos às associações da região.
“Tenho pessoas que aguardaram mais de 50 dias pelo visto. Fizemos todos os papéis, mas depende dos consulados [de cada país], uns esperaram 20 dias e outros muito mais”, contou António Mestre, pedindo uma atenção maior por parte do Estado português, sob prejuízo de “muitas praias” virem a “ficar sem vigilância” em todo o país.
Também a falta de habitação para os cerca de “100 nadadores-salvadores permanentes” de que o território necessita na época balnear tem sido uma “dor de cabeça”, queixou-se o dirigente da Seagull Rescue, que disse contar com a ajuda de alguns proprietários, em Odemira, que “reservam de um ano para o outro”.
Nos restantes municípios do litoral alentejano “é extremamente difícil” e, quando há alojamento disponível, “o valor é exorbitante, aumentando os custos da operação”, lamentou.
Já António Mestre não hesitou em afirmar que arranjar alojamento no concelho de Sines para os nadadores-salvadores “é como encontrar uma grama de ouro”.
“Por enquanto, a Resgate vai conseguindo, porque as pessoas já conhecem o nosso trabalho ou, então, através de pessoas amigas que garantem o aluguer de casas ou quartos. Caso contrário, seria muito difícil”, admitiu.
Por isso, para solucionar a maioria dos problemas, o responsável defendeu a criação de incentivos na área do salvamento aquático para os jovens “se importarem mais” com esta atividade de nadador-salvador.
A época balnear nas praias do concelho de Sines decorre entre 14 de julho e 15 de setembro.