Foi no Mosteiro dos Jerónimos, há 40 anos, que Mário Soares (PS) assinou o tratado de adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE), integrando assim o país num espaço político e económico das democracias liberais europeias.

Contudo, os efeitos da entrada no mercado europeu, juntamente com os subsídios atribuídos para abandonar atividades produtivas (sobretudo na pesca e na agricultura) e ainda alterações na regulação e custo de licenciamento de atividades económicas, foram tudo fatores que criaram nos portugueses um grau de desconfiança, tanto das instituições europeias, como nos políticos que as representam, em Lisboa ou em Bruxelas. Até há 10 anos atrás Portugal estava entre os países da União Europeia que apresentavam maiores níveis de desconfiança nesta organização internacional, juntamente com a Espanha, Itália e Grécia. 

No Eurobarómetro de 2015 eram cerca de 48% os portugueses que não confiavam no projeto europeu, este foi um sentimento que se acentuou durante a intervenção da Troika, uma tríade de supervisores das políticas económicas nacionais e que foi várias vezes acusada de interferir na soberania do Estado, com apoio do Governo de Passos Coelho. Apesar destes factos, neste momento Portugal é um dos países mais “europeístas”, com o Eurobarómetro de 2025 a mostrar que 75% dos portugueses se consideram favoráveis ao projeto europeu.

Hoje, novamente no Mosteiro dos Jerónimos, celebraram-se 40 anos desde a assinatura do documento que levou Portugal a integrar a CEE (atual União Europeia). Esta cerimónia juntou uma parte considerável da elite política do país, com um destaque para figuras como Marcelo Rebelo, Luís Montenegro (PSD), André Ventura (CH) e António Costa (PS) que, sentados na mesma fila, celebraram os 40 anos de Portugal na União Europeia. 

Num discurso que aludiu aos grandes feitos dos portugueses no passado, o ex primeiro-ministro Durão Barroso começar por tomar a palavra. Com grande entusiasmo e falando mesmo num “segundo 25 de Abril” aquando da adesão europeia, nas suas palavras, diz que é “priviligiado” porque teve a oportunidade de ver a participação de Portugal na UE “por dentro e por fora”. Fala também no respeito que outros estados têm para com “o bom exemplo português”, referindo-se à forma pacata como os portugueses foram aceitando as políticas europeias. 

Já António Costa, optou por fazer um discurso pouco político e extensivamente institucional, cativando no público – maioritariamente de direita – alguns aplausos tímidos. Mais do que falar sobre desafios políticos, o ex primeiro-ministro do PS falou em união – entre partidos em Portugal e entre países na União Europeia – em torno das questões da defesa, nomeadamente sobre o que diz ser uma “necessidade” de criação e de investimento num exército comunitário.

Depois de Costa, subiu ao palco o primeiro-ministro Luís Montenegro. Perante um público composto por muitos dos seus partidários, alguns ministros e alguns representantes de outros partidos que sustentam o atual Governo – como é caso do Chega, da Iniciativa Liberal e do Partido Socialista – Luís Montenegro destaca que o percurso de Portugal na União Europeia foi “o período de maior desenvolvimento do país”, sem nunca mencionar aspectos negativos, como por exemplo, os efeitos da Política Agrícola Comum (PAC), que resultou num massivo abandono de terras e em grandes bolsas de população desempregada, sobretudo no sul do país.

O primeiro-ministro destaca ainda que o maior desafio que enfrentamos na Europa neste momento é “o aumento das forças extremistas” – sem especificar quais – numa altura em que prefere manter o silêncio sobre as razões que o levaram a pedir para retirar grupos terroristas, compostos por Neo-Nazis, do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), não sinalizando grupos do crime organizado como os “Blood & Honour” ou o “Grupo 1143”, sendo a última organização uma antiga vertente criminosa da Juve Leo e que agora se tornou num pequeno movimento político com ações violentas.

Após a assinatura simbólica do tratado, com o Presidente da República e o primeiro-ministro lado a lado, foi Marcelo quem encerrou a cerimónia, com um discurso sobre a importância da União Europeia na construção da paz, apelando à Federação Russa que volte a ter um pendor europeu, contrariando assim as suas posições anteriores e desautorizando os discursos de António Costa e de Luís Montenegro, que defendem mais investimento em guerra e armamento. Aproveitou ainda para citar o papa Francisco para dizer que o caminho para a paz é feito com “todos, todos, todos”.