Durante muito tempo, falou-se que o amanhã das duas rodas seria elétrico. No entanto, essa promessa tem enfrentado resistência por parte de um público que continua profundamente ligado ao motor de combustão — ao seu som, à sua vibração, ao cheiro da gasolina. Há quem veja as motos elétricas como desprovidas de emoção, caras e silenciosas demais. E embora haja algum exagero nestas críticas, é impossível ignorar que tocam em pontos sensíveis.

A ligação visceral ao motor tradicional é real, mas a evolução tecnológica segue o seu caminho, com ou sem aceitação total. E por vezes, são os próprios decisores políticos que dificultam essa transição, com medidas mal ponderadas que criam obstáculos em vez de abrir caminhos. Foi exatamente isso que aconteceu recentemente nos Países Baixos.

Nos últimos anos, o mercado europeu de motos elétricas tem vindo a crescer. Marcas pioneiras como a Zero e a Super Soco mostraram o caminho, que agora começa a ser trilhado por grandes fabricantes como a BMW, Yamaha ou Kawasaki. Os números confirmam a tendência: cada vez mais condutores descobrem as vantagens deste tipo de veículo — aceleração imediata, manutenção mínima e, para quem circula em contexto urbano, um silêncio bem-vindo.

Mas o crescimento não se faz sozinho. Sem incentivos adequados, o elevado custo inicial destas motos continua a ser uma barreira significativa face aos modelos a gasolina. E foi precisamente aí que os Países Baixos tropeçaram.

No início de 2025, o governo neerlandês surpreendeu o setor ao retirar a isenção fiscal que até então beneficiava as motos elétricas. De um dia para o outro, passaram a estar sujeitas à taxa de IVA de 19,4%, tal como qualquer moto convencional. Além disso, desapareceram outras isenções, como o imposto de circulação. A reação do setor foi imediata e contundente — a medida foi descrita como um golpe inesperado que punha em causa anos de progresso.

A decisão não nasceu de uma oposição direta às motos elétricas, mas de uma reforma fiscal mais vasta, que falhou ao não distinguir entre diferentes categorias de veículos. O resultado, contudo, foi desastroso: uma mensagem contraditória num momento em que se esperava reforço à mobilidade sustentável.

Felizmente, a resposta não tardou. A indústria uniu-se e, através da Associação RAI e outras entidades do setor, pressionou o governo para reverter a medida. Contra todas as expectativas, o executivo reagiu rapidamente.

Já a meio de 2025, os Ministérios das Finanças e das Infraestruturas reconheceram o erro. Reintroduziram um incentivo essencial, substituindo o imposto anterior por uma taxa fixa de apenas 200 euros — com efeito retroativo a 1 de janeiro. A decisão foi recebida com alívio e entusiasmo por parte dos fabricantes, revendedores e utilizadores.

Mais do que um episódio isolado, o caso neerlandês serve de aviso para toda a Europa. Mostra como decisões mal calibradas podem travar avanços importantes, e como é vital haver políticas de mobilidade consistentes, a longo prazo.

Além disso, sublinha o papel muitas vezes esquecido das motos elétricas na transformação das cidades. São práticas, ocupam pouco espaço, evitam filas e não poluem o ar. Os Países Baixos podem ter falhado num primeiro momento — mas o recuo rápido mostrou que ainda é possível corrigir o rumo.