Crescemos com os joelhos e os cotovelos esfolados e com as nossas mães a desinfetar as feridas com álcool, água oxigenada ou Betadine, muitas vezes colocados com uma bola de algodão.

Mas será que todas essas formas de desinfeção estão corretas? A resposta é: não. Além da dor aguda que o álcool e a água oxigenada provocam numa ferida aberta, estes produtos podem até atrasar a cicatrização. Quem o diz é Deolinda Chaves Beça, especialista em medicina geral e familiar, que explica ao Lifestyle ao Minuto qual é, afinal, a forma mais correta de desinfetar feridas.

Saiba ainda se existem diferenças quando falamos de crianças pequenas, os sinais que indicam que pode precisar de ajuda de um profissional de saúde, se é melhor usar um penso ou deixar a ferida sarar ao ar livre, e a importância de proteger as cicatrizes do sol.

Qual a forma mais correta de desinfetar uma ferida?

A forma mais correta é, primeiro, lavar com água corrente e sabão neutro, durante cerca de dois a cinco minutos, para remover sujidade, bactérias e corpos estranhos. A seguir, pode aplicar-se uma solução antisséptica suave, como a cloro-hexidina ou o iodopovidona (Betadine), desde que a pessoa não tenha alergia. O mais importante é a limpeza mecânica, mais do que qualquer produto químico. E, claro, mãos sempre bem lavadas antes de tocar na ferida.

E no caso de crianças muito pequenas, difere?

Difere em parte, nas crianças muito pequenas é preciso ser ainda mais delicado. Também se lava com água e sabão, mas evita-se qualquer produto que possa ser irritante. Para as crianças, a cloro-hexidina em solução aquosa é, geralmente, a opção mais segura. Deve-se usar compressas suaves, nunca esfregar, e tranquilizar a criança. O momento da limpeza pode ser assustador para elas.

Porque não se deve usar álcool ou água oxigenada?

Apesar de serem produtos comuns nos armários domésticos, não devem ser usados diretamente em feridas. O álcool é demasiado agressivo: queima os tecidos saudáveis e atrasa a cicatrização. A água oxigenada, embora pareça 'limpar bem' pelo efeito efervescente, também destrói células importantes para a regeneração da pele. Em vez de ajudar, podem atrasar a recuperação e causar mais dor.

E porque não se deve usar algodão?

O algodão desfaz-se com facilidade e deixa pequenos fios dentro da ferida, que podem causar infeções ou inflamações. O ideal é usar compressas esterilizadas, que não largam resíduos e são mais seguras para uma limpeza eficaz.

Uma ferida que não tenha sangue, por exemplo um raspão, também deve ser desinfetada?

Sim. Mesmo que não sangre, um raspão expõe as camadas superficiais da pele a agentes externos. Deve ser lavado cuidadosamente, como qualquer ferida, para evitar infeções. Muitas vezes, os raspões são subvalorizados, mas também merecem atenção.

No caso de cortes, qual a melhor forma para estancar o sangue antes de se poder tratar o ferimento?

O primeiro passo é aplicar pressão direta com uma compressa limpa ou com um pano limpo e seco, durante alguns minutos. O membro deve ser elevado (acima do nível do coração, se possível) para ajudar a reduzir o fluxo sanguíneo. Nunca se deve colocar produtos diretamente na ferida antes de estancar a hemorragia.

É melhor deixar as feridas sararem ao ar livre ou com um penso? Ou depende do tipo de ferimento?

Depende. Antigamente dizia-se que o ar ajudava a cicatrizar, mas hoje sabemos que as feridas cicatrizam melhor em ambiente húmido e protegido. Um penso adequado mantém a ferida hidratada, limpa e protegida de infeções. Claro que há feridas muito superficiais que podem ficar ao ar, mas em geral, o penso favorece a cura.

Notícias ao Minuto © Deolinda Chaves Beça

De forma genérica, em que caso se deve procurar ajuda de um profissional de saúde?

Deve procurar-se ajuda quando:

  • A ferida é profunda ou extensa;
  • O sangue não estanca após 10 minutos de pressão;
  • Há corpos estranhos visíveis (vidro, ferrugem, sujidade);
  • A ferida é causada por mordidas de animal ou humano;
  • O ferimento está próximo de zonas sensíveis (olhos, articulações, genitais);
  • A pessoa não tem vacina contra o tétano atualizada;
  • Surgem sinais de infeção (vermelhidão crescente, pus, dor intensa ou febre).

E, no caso dos cortes, como perceber que talvez sejam necessários pontos?

Se a ferida for profunda, com bordos afastados que não se juntam naturalmente, ou se houver sangramento persistente, pode ser necessário suturar. Outra pista é se se veem camadas internas da pele ou tecidos mais profundos. O ideal é ser observado rapidamente, até seis a oito horas após o corte, porque há um limite de tempo para se fazer pontos com segurança.

Em que casos são dados pontos de sutura e em que casos se recorre às tiras de sutura?

Os pontos tradicionais são usados quando a ferida é profunda, irregular ou em zonas de maior movimento (como mãos, pernas, joelhos).

As tiras de sutura (tipo Steri-Strip) são boas para cortes mais superficiais, lineares e pequenos, em zonas com pouca tensão na pele. São práticas, indolores, seguras e muito usadas em crianças.

E, quando depois existem cicatrizes, qual a melhor forma de as proteger do sol e porque é importante fazê-lo?

É fundamental proteger as cicatrizes do sol, pelo menos durante os primeiros seis a 12 meses. A exposição solar pode provocar manchas escuras permanentes ou alterar a textura da pele.

A recomendação é aplicar protetor solar 50+, reaplicar frequentemente e, se possível, cobrir a zona com roupa ou penso. Uma cicatriz bem protegida é uma cicatriz que quase desaparece com o tempo.